sábado, 29 de dezembro de 2007

Preferia não ler e não ouvir

"Assassinato" em vez de assassínio. A explicação está aqui.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Comissão Europeia incentiva o desenvolvimento da literacia mediática

Acaba de ser divulgado o primeiro documento político sobre a literacia mediática a nível da UE. A comunicação da Comissão anuncia um estudo a lançar em 2008 sobre a avaliação da literacia mediática em diversos níveis. No press release sobre o assunto pode ler-se que "a capacidade das pessoas de analisarem criticamente o que encontram nos media e de fazerem escolhas mais informadas – conhecida como 'literacia mediática' – é cada vez mais um elemento essencial para uma cidadania activa e para a democracia". A presente comunicação surge na sequência de um inquérito efectuado no ano passado à escala da União Europeia que serviu para balizar o conceito:

"A literacia mediática diz respeito a todos os tipos de media, nomeadamente televisão, cinema, vídeo, sítios Web, rádio, jogos vídeo e comunidades virtuais. De forma sintética, pode dizer-se que é a capacidade de aceder, compreender, avaliar e criar os conteúdos dos media. O cidadão comum cada vez mais tem acesso a – e coloca em linha - conteúdos que são visíveis em todo mundo. No entanto, nem todos compreendem ainda plenamente o contexto em que esses materiais são escritos, vistos ou lidos, nem as possíveis consequências da publicação directa dos mesmos. Consequentemente, é necessário que todos os cidadãos adquiram novas qualificações como comunicadores activos e criadores de conteúdos. Num ambiente mundial e multicultural, surgem novos desafios relacionados com os media que levantam problemas no que respeita à segurança, à inclusão e à disponibilidade de acesso para todos."

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Preferia não ouvir jornalistas dizer

"O nosso país"; "a nossa selecção".

domingo, 9 de dezembro de 2007

Relações institucionais impraticáveis entre o Provedor do Ouvinte e o Director de Programas da RDP

O Provedor do Ouvinte da RDP não podia ser mais claro. No seu programa "Em Nome do Ouvinte", de 07/12, a propósito da Antena 3, José Nuno Martins admitiu que se deterioraram por completo as relações institucionais entre ele próprio e o Director de Programas da rádio pública, Rui Pêgo. "Em meados de Junho, quando ainda eram praticáveis relações institucionais entre o Provedor do Ouvinte e o Senhor Director de Programas das Antenas 1, 2 e 3, Rui Pêgo, foi-me dado saber que a Estação preparava uma profunda reformulação das suas propostas", conforme foi referido aqui.

Afinal, o que parecia ter sido uma cedência às sugestões do Provedor não se traduziu num melhor relacionamento institucional e José Nuno Martins, a propósito da reformulação de programas na Antena 3, dispara agora: "Não estando eu disposto a que o Senhor Director de Programas me voltasse a colocar condições prévias para responder a indagações que lhe faço", explica o Provedor, "entendi dirigir directamente as questões dos Ouvintes e as minhas propostas temáticas, ao Senhor Director-adjunto".

Todavia, a reacção do Director-adjunto, José Mariño, também não deixou de provocar o desagrado do Provedor: "o que é menos tolerável, é que não tenha sido a primeira vez que, usando de alguma impertinência, Mariño tenha pretendido indicar procedimentos ao Provedor do Ouvinte."

As picardias entre o Provedor do Ouvinte e o Director de Programas da RDP não são de agora. Ao longo do último ano, em várias emissões do programa "Em Nome do Ouvinte", José Nuno Martins vinha lamentando que as suas recomendações não encontravam eco no responsável executivo da Estação. Ao assumir publicamente a impraticabilidade de relações institucionais com o Director de Programas, o Provedor do Ouvinte da RDP sobe o tom da disputa. Agora, é só esperar e ver para que lado pende o "braço-de-ferro".

O que é a democracia, hoje?

Entrevista de Adelino Gomes ao sociológo Alain Touraine, no Público de 09/12:

"Pegando nos títulos de alguns dos seus livros mais recentes, mas pedindo-lhe respostas quase telegráficas, pergunto-lhe: o que é a democracia, hoje?
Na grande tradição ocidental (Hobbes e Rousseau), consiste na união de todos - todos por um e um por todos. É a unidade de todos que cria a liberdade de cada um. Não quero isso. Porque sei que isso abre a porta a todos os poderes autoritários que falam em nome do povo, do proletariado, da nação. Prefiro a definição a que chamo britânica: a democracia é a limitação do poder das instituições (Estado, religiões, poder económico, etc.)."

Preferia não ter ouvido na rádio e na televisão

"Acórdos" em vez de "acôrdos".

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A 1ª série da revista "Grande Reportagem"

Faz hoje 23 anos, a 7 de Dezembro de 1984, foi publicado o 1º número da 1ª série da revista "Grande Reportagem" (ficha técnica e sumário em baixo). No pós-25 de Abril foi a primeira vez que, em Portugal, surgiu nas bancas um newsmagazine, como agora se diz, herdeiro de publicações anteriores a 1974 como a "Vida Mundial", o "Século Ilustrado" ou a "Flama". A "Grande Reportagem" tinha como objectivo abordar temas de modo profundo e completo e o seu director era José Manuel Barata-Feyo, também ele responsável de um programa de televisão homónimo cujo fim fora decretado, meses antes, pelo governo do Bloco Central, na sequência de uma reportagem sobre a guerra civil em Angola.

A redacção da revista "Grande Reportagem", chefiada por José Júdice, contava com os grandes repórteres Adelino Gomes, Fernando Gaspar, Miguel Sousa Tavares e Rui Araújo, para além de outros importantes nomes do jornalismo português como Carlos Oliveira, Gualdino Paredes ou Joaquim Furtado. O naipe de colunistas era de peso e a sua opinião continua a pontificar, ainda hoje, nos media: António Barreto, António Pedro Vasconcelos, Maria Filomena Mónica e Vasco Pulido Valente.



A 1ª série da "Grande Reportagem", que tinha periodicidade semanal e 68 páginas por edição, não chegou a durar um ano, mas inovou o panorama da imprensa portuguesa ao introduzir, ainda que timidamente, a cor e apresentando uma visão cosmopolita do mundo, contando para isso com correspondentes em Roma, Paris, Madrid, Londres, Bona, São Paulo e Genebra, coordenados em Lisboa por Seruca Salgado, entretanto, já falecido.

A minha colaboração na "Grande Reportagem", de que aqui deixo três peças, foi feita, então, a partir da República Federal da Alemanha onde pontificava, na altura, o chanceler Helmut Kohl (07/12/1984), ainda em pleno período de guerra fria (04/04/1985), e com a sociedade alemã conturbada pelas sequelas da actividade do grupo de Baader-Meinhoff (25/01/1985).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Infoinclusões... dos outros

A boa medida que a gestão mediática do Governo matou. De Paulo Ferreira no Público de 06/12 (só para assinantes): "Em apenas uma manhã, o Governo recuou naquilo que há poucos dias eram as suas convicções profundas e atirou para o cesto dos papéis uma medida que tinha uma base positiva e que estava a ser estudada e preparada há meses.(...) Porque recuou então o Governo, recorrendo a falsos argumentos depois da notícia de ontem do PÚBLICO?Este foi um dossier que escapou à máquina de comunicação do executivo. Colocado assim na praça pública, sem preparação e sem um cenário controlado - que podia ser um evento ambiental ou um debate mensal no Parlamento, onde o primeiro-ministro gosta de levar surpresas -, o que se verificou ontem foram muitas reacções negativas, que puderam ser lidas em comentários às notícias na Internet ou nos programas de antena aberta das rádios."

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Infoinclusões... dos outros

Entrevista: Gonçalo M. Tavares. Os políticos percebem pouco dos homens. De Isabel Ramos na revista Correio Domingo do Correio da Manhã de 25/11:

"- Os políticos que pertencem aos partidos são cada vez mais pessoas que percebem menos dos homens. É trágico. A política transformou-se numa aprendizagem do discurso, de argumentar e refutar a argumentação do outro. Transformou-se numa arte da palavra, da gestão da palavra e não das coisas, muito menos dos homens. Os políticos deviam ler mais e viver mais para perceber os homens. Não têm experiências, têm discursos.
- Mentir faz parte dessa arte?
- A arte do discurso político é a arte de dizer as coisas sem mentir explicitamente. É quase sempre a arte de não mentir dizendo as coisas da forma mais conveniente. Transformou-se numa segunda linguagem. Hoje, mais do que saber disparar uma arma, um cidadão precisa, para defender-se, de perceber alguma coisa de linguagem. Os truques.
- Como assim?
- Um título recente no jornal dizia: ‘deficientes vão deixar de poder acumular dois subsídios.’ Era a frase de um político. Quem a lê, à primeira, se não souber de onde vem, quem a diz e qual é a intenção, associa “acumular” a alguém ganancioso, usurpador daquilo a que não tem direito. Já “subsídio” remete para não fazer nada e receber algo. Afinal, o que estava em causa eram deficientes que recebiam 20 euros de um subsídio, 15 de outro e cortaram-lhes um. É a isto que me refiro quando digo que as frases formam uma camada de engano.
- Ou seja, enganam sem mentir?
- Aquela frase não era mentira. Eliminava-se a acumulação de subsídios, mas quem lê pensa que se está a tirar de um grande privilegiado uma benesse quando se estava a tirar a uma pessoa deficiente 15 euros em 35. É repugnante.
- Como combater a mistificação?
- Um país sensato devia proporcionar aos cidadãos aulas de linguística para perceberem as questões da linguagem, o subliminar, o subtexto...
- Mas isso não interessa ao poder.
- Não, claro que não."

domingo, 25 de novembro de 2007

Jornalista multimédia, "ma non troppo"

Começa a gerar algum consenso a ideia de que o exercício da actividade jornalística, em simultâneo, para diferentes plataformas (on-line, imprensa, rádio, televisão) não é viável nem desejável em todas as circunstâncias, conforme tinha sido suscitado aqui. Os limites do jornalismo multimédia foram aqui reconhecidos por alguém que tem o saber de experiência feito

Também do lado dos editores há já quem ponha em causa o conceito das redacções completamente integradas. Bruno Patino, Vice Presidente do grupo Le Monde e Presidente do Le Monde interactif, afirmou numa entrevista ao Editors Weblog que, dentro de dois anos, a questão (integração ou não-integração) será considerada obsoleta porque uma nova organização de trabalho está a emergir. Assim, num novo modelo de redacção alguns trabalhos serão adaptados apenas para uma plataforma, outros para uma multiplicidade delas, enquanto alguns serão completamente "agnósticos" em termos de plataforma. Evocando o processo de convergência nas redacções, Bruno Patino sustenta que a principal questão não deveria ser a integração, mas sim saber como oferecer um melhor produto editorial numa variedade de plataformas.

domingo, 18 de novembro de 2007

"Debate Público" no RCP - interacção para a informação ou para o entretenimento?

O programa interactivo "Debate Público", no RCP (2ª a 6ª das 12h00 às 13h30), deu mais um passo para a descredibilização, dirão uns, ou para a assunção, dirão outros (entre os quais me incluo), de que este tipo de emissões dificilmente pode ser compaginado com regras jornalísticas estritas. Nos audiovisuais portugueses esta é a primeira vez que um programa que procura a expressão de pontos de vista privados sobre assuntos públicos (the expressive phone-in na terminologia de Andrew Crisell) é conduzido, não por jornalistas (Teresa Gonçalves tem número de Carteira Profissional mas há muito que deixou de exercer funções jornalísticas), mas por animadores/locutores, apesar de a interacção suscitada no programa não ter a ver com meras intervenções exibicionistas ou confessionais para as quais o animador/locutor estará profissionalmente mais vocacionado.

Ademais, acontece que Aurélio Gomes e Teresa Gonçalves (cujo profissionalismo não está, obviamente, em causa) são exactamente os mesmos profissionais que, das 16h00 às 17h00, apresentam a chamada "Hora Rosa-Chique", com temas das chamadas revistas cor-de-rosa, ambos os programas englobados num mesmo espaço radiofónico - "Escolhidos a dedo" - cujo lema é todo ele uma filosofia: "informação, entretenimento e vida social". E nesta amálgama está tudo dito: no que aos audiovisuais diz respeito, os assuntos públicos, as questões de cidadania, dificilmente escapam a um tratamento fora do âmbito do entretenimento e do consumo.

Ao apropriarem-se dos assuntos públicos, a rádio e a televisão (e as emissoras privadas por maioria de razão), tendem a fazer espectáculo com tais questões por forma a rendibilizar o investimento feito. E, mesmo nas emissoras públicas, há quem duvide de que, nos programas interactivos, seja possível manter o "rigor informativo" e sustente que tais programas "apesar de tratados pela informação e por jornalistas constituem espaços fortemente especulativos".

Assim sendo, pode dizer-se que, no espaço público da rádio, a interacção para a cidadania é cada vez menos dicotómica com a interacção para o consumo, como se concluiu aqui, pelo que, nos audiovisuais em geral, a interacção para a informação e para o entretenimento serão duas faces de uma mesma moeda e estarão, cada vez mais, de mão dada.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Infoinclusão para jornalistas

A literacia digital é, cada vez mais, uma componente indispensável na actividade jornalística. A adaptação às necessidades decorrentes da digitalização do sector levou à elaboração de oito perfis de formação para a era digital. A ver aqui.

SIC Online no centro das redacções da SIC

É mais um passo, para a convergência entre as diversas plataformas mediáticas, dado através da Internet. A SIC Online passa a ser o centro de difusão de material noticioso para o universo SIC. Aqui.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A rádio também já se vê

É mais um contributo dado pela Internet para a convergência dos diversos meios. A reportagem radiofónica, para além de ser ouvida na rádio, pode ser vista em vídeo. A Rádio Renascença acompanha o sinal dos tempos e já está a disponibilizar, de uma forma sistemática, alguns trabalhos jornalísticos para serem vistos no seu site. Aqui a reportagem é de Ana Cabrita, com imagem e edição de Teresa Abecassis, a propósito do lançamento, hoje, do livro "Os meus 35 anos com Salazar".

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Infoinclusões...dos outros

O novo aeroporto de Lisboa e os novos aprendizes da contra-informação. De José Manuel Fernandes no Público de 12/11 (só para assinantes): "O ministro Mário Lino colocou uma empresa que depende dele a fazer o trabalho que cabia ao LNEC. Queria descredibilizar o estudo da CIP. (...) aquilo a que assistimos, e que nos foi apresentado sem pudor, representa um esforço de condicionamento da opinião pública por parte da Rave que, ao contrário da CIP, não actuou de forma transparente nem forneceu ao nosso colaborador os estudos que diz ter realizado. Tratou sim de gerar uma sucessão de notícias, difíceis de escrutinar, cirurgicamente dirigidas, numa acção que os políticos costumam definir por spin, eufemismo de manipulação."

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Hoje a rádio é...pau para toda a obra

O comentário acutilante de João Severino, que não consegue esconder a sua enorme paixão pela rádio. Aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A importância da literacia da informação

"Os jornalistas descobrem normalmente o que os interessados lhes filtram." Aqui. Como se diz na epígrafe deste blogue "(...) ser capaz de ler não define a literacia no complexo mundo de hoje."

O fim de um mito?

"O consumo de rádio no carro não é tão dominante como as pessoas o percepcionam". Aqui.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Infoinclusões...dos outros

"Poderia ser" jornalismo. De Manuel António Pina no Jornal de Notícias. A senioridade no seu melhor.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Rádio Clube – uma rádio de influência?

A auto-promoção garante que sim, reiterando aquilo que Luís Osório tem defendido desde que chegou ao RCP faz agora dois anos, precisamente no dia 1 de Novembro de 2005. Ganhar influência mediática foi, desde o início, um dos objectivos assumidos publicamente pelo director da estação e o conceito acabou mesmo por ter tradução em nomes de programas e rubricas. Ele é a “Rede de influência”, ele é o “Clube económico – jornal de influência” ou ainda a “Influência directa” (este programa, entretanto, já descontinuado no meio da voragem errática que tem atingido profissionais e programas desde o arranque do novo formato do RCP ocorrido em 29 de Janeiro de 2007).

As mudanças começaram logo ao segundo dia com a substituição da primeira apresentadora do programa “Posto de Escuta” que tinha sido escolhida “após um rigoroso e exigente casting”. Depois, ao longo dos meses, sucederam-se as alterações: fechou a “Loja do chinês”, inicialmente apresentado como um grande programa de humor; eclipsou-se o “Tudo é possível” apesar da garantia de ser este o programa mais popular de toda a grelha do Rádio Clube; a grande aposta para as tardes de 2ª a 6ª feira na “Janela aberta”, Célia Bernardo, foi remetida para as manhãs do fim-de-semana; Luís Filipe Borges, o badalado humorista-entrevistador desapareceu do éter depois do Verão; a “Torre de Babel”, do multifacetado opinion maker Nuno Rogeiro, deve ter-se desmoronado porque deixou de se ouvir falar dela; para além do meteórico aparecimento, numa semana, de um programa de astrologia africana que, na semana seguinte, passou para a Romântica FM.

Cito estes exemplos de memória, mas muitos outros ajustamentos de pessoas e horários foram sendo feitos ao longo deste ano, sempre justificados como reforços da grelha que, nalguns casos, não duraram mais do que poucas semanas (escaparam dignamente às instáveis opções hertzianas de Luís Osório o “Minuto a Minuto” de João Adelino Faria e o “Escolhidos a dedo” da dupla Aurélio Gomes/Teresa Gonçalves). Porém, aparentemente, toda esta agitação nem sequer teria razões para ocorrer uma vez que foi feita uma longa preparação logística e de formação de pessoal antes do arranque do novo formato do RCP. O switch-on do projecto esteve inicialmente apontado para Setembro de 2006 mas acabou por ser adiado para Janeiro de 2007, mês durante o qual decorreu uma limpeza de antena, com os serviços reduzidos ao mínimo, a fim de ajudar o auditório na caracterização do novo formato.

Vem tudo isto a propósito daquilo que reputo como a primeira condição para se conseguir influência – a credibilidade. Por mais esforçado que seja o marketing, os factos que evidenciam dificuldades em manter uma coerência na grelha, a imaturidade revelada por algumas das escolhas, aparentemente definidas menos por critérios profissionais e mais por amiguismo ou compadrio dentro de um quadro que na blogosfera chegou a ser ironicamente apresentado como tratando-se de um grupo organizado, e o esquecimento de que não se consegue influenciar sem compreender o meio (Hannah Arendt dizia, de resto, que interessava-lhe muito mais compreender do que influenciar) podem fazer desmoronar as ambições de qualquer projecto.

Para além disso, a verdadeira credibilidade é aquela que é reconhecida, e não a que nos pretendem impor. Não é por conceder espaços de antena a esmo a protagonistas e a opinion makers, ou por se fazerem mais ou menos “fretes”, que se conquista um reconhecimento sustentado. A prazo, toda essa construção esboroa-se, ao ser detectada pela opinião pública, e as concessões acabam por não dar os frutos desejados.

Nos primeiros tempos da TSF (e honra seja feita ao Emídio Rangel da altura pelo espírito que incutiu na sua equipa) os “barões” da rádio de então (João David Nunes na Comercial, Magalhães Crespo na Renascença) minimizaram os efeitos da concorrência dos “miúdos da TSF” até que tiveram que acabar por dar crédito à nova estação. E isto, porque havia uma linha de rumo definida e um know-how competente que fez com que fossem os protagonistas a quererem aparecer na antena de uma TSF que se impôs como credível.

Chegados a este ponto passamos à segunda condição para se conseguir ganhar influência – a notoriedade. Utilizando o registo de audiências feito pelo Bareme Rádio da Marktest podemos verificar que o RCP passou de mais de 3% de A.A.V. , antes da chegada de Luís Osório, para os actuais 1% de A.A.V. (3º trimestre de 2007). Já se sabe que as audiências do Bareme Rádio valem o que valem e as suas debilidades estão identificadas. Porém, se os dados actuais não servirem para mais nada servem, pelo menos, para determinar uma tendência. E essa é, manifestamente, desoladora para o RCP desde há dois anos a esta parte:

2º trimestre de 2005 – 3,6% A.A.V.
3º trimestre de 2005 – 3,2% A.A.V.
4º trimestre de 2005 – 3,1% A.A.V.
1º trimestre de 2006 – 3,2% A.A.V.
2º trimestre de 2006 – 2,3% A.A.V.
3º trimestre de 2006 – 2,4% A.A.V.
4º trimestre de 2006 – 2,4% A.A.V.
1º trimestre de 2007 – 2,2% A.A.V.
2º trimestre de 2007 – 1,4% A.A.V.
3º trimestre de 2007 – 1,0% A.A.V.

Analisando apenas o período que contempla a mudança radical de formato para uma rádio de palavra (a partir de Janeiro de 2007) o declínio do grau de notoriedade revelado pelas audiências é ainda mais acentuado. Porém, segundo os responsáveis do RCP e também no entender de alguns comentadores que comungam da mesma opinião, a explicação está no facto de terem migrado para outras estações quase todos os ouvintes que preferiam o formato anterior, enquanto que os novos ouvintes favoráveis ao actual formato estão ainda a ser conquistados.

Seja como for, com a actual cifra de 1% de A.A.V. (traduzida em cerca de 83 mil ouvintes de um universo potencial de 8 milhões e 300 mil), somada à falta de estabilidade de uma grelha que sustente a credibilidade do projecto, é difícil conceder que o RCP possa ser considerado, desde já, uma rádio de influência. Até porque quem tem uma efectiva influência não precisa andar a alardear aos quatro ventos que a tem ou que a quer ter. Pura e simplesmente são os outros que lhe reconhecem, ou não reconhecem, tal prestígio.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Mercado de trabalho encolhe para jornalistas e locutores de rádio

É o que diz a revista Forbes, ao analisar as carreiras mais ameaçadas, baseando-se em projecções para o mercado de trabalho norte-americano:

"Another endangered species: journalists. Despite the proliferation of media outlets, newspapers, where the bulk of U.S. reporters work, will cut costs and jobs as the Internet replaces print. While current events will always need to be covered (we hope), the number of reporting positions is expected to grow by just 5% in the coming decade, the Labor Departmant says. Most jobs will be in small (read:low-paying) markets.
Radio announcers will have a tough time, too. Station consolidation, advances in technology and a barren landscape for new radio stations will contribute to a 5% reduction in employment for announcers by the midlle of the next decade. Even satellite radio doesn't seem immune from the changes. The two major companies, XM and Sirius - which now have plans to merge - have regularly operated in the red."

Numa economia global o cenário dos EUA não tardará a projectar-se em todo o mundo. Também em Portugal, neste século XXI, as perspectivas de uma carreira não deverão ser muito aliciantes para jornalistas e locutores de rádio.

(Dica de João Pedro Pereira em ENGRENAGEM)

domingo, 28 de outubro de 2007

Infoinclusões...dos outros

Da mentira como virtude política. De António Barreto no Público de 28/10 (só para assinantes) glosando um tema já aqui comentado: "A democracia vive hoje da mentira. Sob todas as suas formas: ocultação, contradição, correcção, circunstância superveniente ou melhor ponderação.(...) Se os nossos media escritos, falados ou televisivos, estivessem à altura, talvez a sucessão de mentiras não fosse tão rica. Mas também parece que, com frequência crescente, gostam do novo hábito. Que usam com volúpia. Ou perdoam com malícia. "

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Mas que falta de imaginação!....

Adivinhem como se chamam os espaços de informação desportiva do RCP que replicam o "Jornal de Desporto" da TSF? Jornal de Desporto!

Adivinhem como se chama o novo programa de tops musicais da Rádio Comercial que segue a linha do TNT - Todos No Top, histórico programa de Jorge Pêgo na Rádio Comercial no início dos anos 80? TNT - Todos No Top!

Adivinhem quem se inspirou na música e na coreografia que se segue interpretada por Claude François nos anos 60?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Infoinclusões...dos outros

Santana Lopes, herói nacional? João Miguel Tavares parou para pensar um bocadinho e desarrincou uma prosa brilhante. Aqui.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Quantos são, quantos são?

Noticiário das 17 horas do Rádio Clube Português. O repórter Fernando Emmes entra em directo do Parque das Nações para dizer que a manifestação de polícias não deve estar muito longe de reunir os 3500 participantes que os organizadores esperavam.

Noticiário das 17 horas da Rádio Renascença. A repórter Liliana Monteiro entra em directo da Estação do Oriente dizendo que a dimensão do protesto congrega, naquela altura, cerca de uma centena de participantes.

Afinal, em que ficamos?

domingo, 23 de setembro de 2007

Literacia da informação

Isto é literacia da informação. Saber ler e mostrar as entrelinhas.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Memória de elefante

A propósito da dispensa de António Sérgio pela Rádio Comercial têm sido escritas algumas incorrecções, nomeadamente quanto ao percurso profissional do radialista, por exemplo, aqui.

António Sérgio não começou na Rádio Renascença, em 1977, com o programa "Rotação". Já no início dos anos 70 podia ser ouvido na mesma Renascença, ao lado de Odete Ferrão, apresentando o "Encontro para dois" ou, então, no "Tic-tac", dois programas que não se identificavam sequer com qualquer cultura musical de vanguarda, antes pelo contrário, e onde imperava a chamada "música ligeira".

E não se pode, sequer, invocar o facto de se estar antes do 25 de Abril porque, na mesma emissora e na mesma época, havia programas com conteúdos musicais e formas de apresentação muito menos convencionais como, por exemplo, o "Tempo Zip" ou o "Página 1". Assim sendo, a participação no "Encontro para dois" ou no Tic-tac" apenas pode ser entendida como uma deriva no percurso profissional do então "jovem e inconsciente" António Sérgio que viria, posteriormente, a marcar a rádio através dos seus programas de autor.

Por isso mesmo, o respeito pelas três últimas décadas do trabalho de António Sérgio justificam plenamente um sublinhado por baixo da caracterização feita aqui, no post Go West, onde se lê que "agora, um rapazote velho e meio-néscio despediu-o". Eu não diria melhor.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A gramática e a plástica da rádio

Toda a gente concordará facilmente que a linguagem do meio rádio é específica, relativamente à imprensa, à televisão ou, no caso presente, aos blogues.

Também a execução formal e a apresentação de um produto radiofónico deverá pressupor que o comunicador possua determinadas características e conhecimentos que são próprios do meio rádio.

Vem isto a propósito de quão penoso tem sido acompanhar os primeiros dias em antena da nova aposta para as tardes do RCP, Ana Sousa Dias.

As hesitações, as falhas na condução da emissão, os sucessivos pedidos de desculpa aos ouvintes e uma suposta informalidade revelam, sobretudo, um ténue conhecimento da gramática e da plástica da rádio por parte de alguém que, manifestamente, não está talhada para a função que lhe quiseram atribuir.

Não estão sequer em causa a experiência e os atributos de Ana Sousa Dias como jornalista/entrevistadora. Porque ela, no “Janela Aberta” do RCP, é muito mais do que isso. Como tal, ou se preparava devidamente para conduzir uma emissão com proficiência ou, então, não aceitava dar voz e desempenhar uma tarefa específica de um meio que, nitidamente, não domina.

Assim como não é normal que um jornalista formado no meio rádio salte directamente para responsável pela paginação da mancha gráfica num jornal ou para repórter de imagem numa televisão, o inverso também não deveria acontecer.

Apesar da tendência crescente para a convergência dos meios e polivalência de funções há especificidades do trabalho jornalístico que exigem um acumular de experiências e conhecimentos que devem ser adquiridos na retaguarda.

Porém, actualmente na rádio corrigem-se os erros e aprende-se “no ar” esquecendo que, mesmo no pára-quedismo, se começam por fazer os primeiros ensaios em terra.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ler jornais é saber mais?

Guerra no BCP longe do fim (Diário Económico)

Consenso no BCP: Estatutos alterados até ao fim do ano (Jornal de Negócios)

Accionistas do BCP continuam sem acordo para a assembleia (Público)

Acordo alcançado no BCP pacifica assembleia geral (Diário de Notícias)

Guerra mais acesa no BCP em vésperas de assembleia de accionistas (Jornal de Notícias)

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Um trabalho simultâneo para rádio e televisão

É um sinal dos tempos que se traduz num desafio suplementar para a actividade jornalística: a produção de peças sobre um mesmo tema com destino a suportes diferentes. O conceito emergente está a chegar às redacções portuguesas, como se pode ler aqui, mas ainda não há respostas definitivas sobre se é viável e desejável, em todas as condições, a polivalência do trabalho simultâneo para rádio, televisão, imprensa ou internet. Tendo em vista que cada meio tem a sua linguagem específica, resta saber se o fim da especialização e o caminho para a convergência representa um efectivo benefício para o público ou, simplesmente, uma mais-valia para as empresas. Para os jornalistas o exercício até pode ser estimulante, como eu próprio ensaiei, em 2003, com esta peça para imprensa, este guião para peça de rádio e este audio da peça de rádio, produzidos no âmbito de um Curso de Especialização Pós-graduada em Jornalismo Médico e de Saúde. O futuro não tardará a esclarecer quais as condições e as contrapartidas que envolverão o desempenho polivalente da actividade jornalística.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Posso ser muito antiquado, mas não percebo...

Um jornalista envolvido numa acção de "street marketing". Assumidamente, sem qualquer máscara. Pode ler-se aqui.

domingo, 1 de julho de 2007

Vedeta da Prisa explica perda de credibilidade da rádio

Iñaki Gabilondo é uma das grandes referências jornalísticas da Prisa em Espanha e a sua recente reflexão, na Escola de Verão da Universidade Complutense de Madrid, pode servir de alerta para outras empresas do grupo, designadamente o RCP em Portugal. Do alto da sua experiência de 40 anos na rádio, em que apresentou durante anos a fio as manhãs informativas da Cadena SER, Gabilondo lamentou a "total perda de credibilidade" da rádio em Espanha como consequência de um processo de "alinhamento político" e das "tertúlias espectáculo" que provocaram o "pior que podia acontecer às rádios", que se tornaram "etiquetadas e marcadas politicamente".

Fonte: Madridpress.com, 28/06/07 via O segundo choque (digital)

Infoinclusões...dos outros

Blogs e jornais. De José no Grande Loja do Queijo Limiano.

Blogosfera sob escuta para empresas e políticos. De João Pedro Pereira na edição #18 em papel do Suplemento "Digital" do Público (só para assinantes): "A Seara.com, uma empresa portuguesa de consultoria na área da Internet, lançou o E.Life, um serviço que permite aos clientes acompanhar o que se diz sobre eles na Internet portuguesa -desde textos na blogosfera a comentários em fóruns, redes sociais ou outros espaços que permitam aos utilizadores inserir conteúdo. A tecnologia, desenvolvida por uma firma brasileira, recolhe comentários que incluam uma referência a uma marca ou pessoa (ou qualquer outro termo que seja pedido por quem usa o sistema)."

A 'Princesa do Povo' - Dez Anos de Mentiras. De Miguel Sousa Tavares no Expresso.

Amália “no tempo das cerejas”

Amália Rodrigues nasceu, em Lisboa, em Julho de 1920. Os documentos oficiais atestam que o nascimento ocorreu no dia 23, mas Amália preferia celebrar o aniversário no dia 1, “no tempo das cerejas” - como costumava dizer a diva do fado.

Em 1985, numa tarde de Novembro, eu subi ao salão do 1º andar do nº 193 da Rua de São Bento para registar o testemunho de Amália Rodrigues. Passavam, então, os seus 45 anos de carreira e o objectivo era a realização de um programa sobre a música de Amália que viria a ser emitido pela rádio alemã “WDR 4”. O guião do programa "Uma estranha forma de vida" está aqui. A entrevista não editada pode ser ouvida aqui.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Troca a televisão pela rádio

Depois de João Adelino Faria, que deixou a SIC-Notícias para ir apresentar as manhãs do RCP, uma outra figura dos écrans vai trocar a televisão pela rádio da Media Capital, a partir de Setembro.

O anúncio foi feito ontem pelo director do RCP, Luís Osório, durante o debate "Quantos dias para a rádio", que decorreu na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa. Luís Osório escusou-se, contudo, a revelar o nome do novo reforço televisivo que está a caminho do RCP.

Provedor do Ouvinte, 1 - Antena 3, 0

O Provedor do Ouvinte da RDP, José Nuno Martins, revelou ontem, durante um debate sobre rádio na Sociedade Portuguesa de Autores, ter tido conhecimento que a estratégia de programação da Antena 3 vai sofrer alterações de molde a cumprir melhor as obrigações de serviço público.

José Nuno Martins congratulou-se com a iniciativa dos responsáveis pelo chamado canal jovem da RDP que, assim, dão sequência às observações críticas do Provedor constantes no Relatório de Actividade referente a 2006.

sábado, 16 de junho de 2007

Nas férias...



...há mais vida para além do blogue.
Até já!

domingo, 10 de junho de 2007

Convidados com assinatura no RCP

José Jorge Letria bisou este fim-de-semana no RCP. No sábado, das 13h00 às 14h00, foi um dos convidados do programa "Na Sombra da História", a propósito da evocação de Luís de Sttau Monteiro. No domingo, das 12h00 às 13h00, voltou a ser convidado para o programa "E se...", dedicado à passagem dos 40 anos do lançamento do disco "Sargeant Pepper's Lonely Hearts Club Band" dos Beatles. Nas últimas semanas, recordo-me de ter ouvido o mesmo José Jorge Letria em, pelo menos, outros dois programas: no "Da Noite para o Dia", com Alexandre Honrado, comentando "o outro lado dos títulos das notícias" e fazendo ouvir a sua "Banda Sonora" no programa de Nuno Infante do Carmo.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A lógica do consumo "pós-moralista"

No passado fim-de-semana, o filósofo francês Gilles Lipovetsky veio a Lisboa dizer que "é preciso corrigirmos o lugar que o consumo ocupa nas nossas vidas, fazendo-o em nome de uma ética das pessoas e não da felicidade". Embora admitindo que as satisfações materiais são ingredientes de uma vida feliz, Lipovetsky sublinhou que "o crucial é que as satisfações aconteçam fora dos paraísos passageiros do consumo". Todavia, manifestou-se "contra a postura hipócrita de alguns intelectuais que consideram que a evasão efémera é uma necessidade inferior". Longe estão as visões fundamentalmente escapistas e redutoras do consumo, segundo as quais as pessoas trabalhavam para consumir e, em seguida, consumiam-se a trabalhar, fechando um ciclo sem saída possível. Ao pugnar por "uma ecologia mais equilibrada da existência" corrigindo o lugar que o consumo ocupa em nome de uma ética das pessoas, Lipovetsky tende a associá-lo à cidadania, de modo a que o valor atribuído ao consumo possa ter uma expressão equiparável aos valores cívicos. Porque a cidadania mudou (já não é só sócio-política, é também económica e cultural) e o consumo também mudou (já não é só económico, é também sócio-político e cultural). Para um cidadão e consumidor particularmente atento à situação nos media é exemplar o quadro referencial elaborado por Michael Schudson no ensaio "Citizens, Consumers, and the Good Society". Advogando uma posição "pós-moralista" na análise da cultura de consumo, Schudson sustenta que é um erro identificar a acção política com motivações altruístas de dedicação à causa pública e, em oposição, identificar os comportamentos consumistas apenas com motivações de interesse próprio. Ambos os comportamentos - sustenta Michael Schudson - podem ser uma e outra coisa. Desde a década de 70 do século passado, com Jean Baudrillard e Guy Debord, sabemos que o consumo é uma ameaça para o equilíbrio do ser humano e a espectacularização um risco para a sociedade. Aos consumidores dos meios de comunicação social resta tentar fazer a apropriação do consumo e do espectáculo, veiculados pelos media, de molde a transformar ambos num leque de oportunidades para a cidadania.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Massificação da informação e banalização da opinião

No ano passado, a imprensa gratuita atingiu uma circulação de 8%, a nível mundial, conforme se pode ler aqui, reflectindo um crescimento exponencial. Deste modo, o mercado de publicações, sejam elas generalistas, temáticas, mais populares ou mais de referência, está a ser capturado pelos gratuitos, o que se traduz numa perda de valor para a informação mainstream, distribuída gratuitamente por todo o lado, seja através dos jornais ou via rádios e televisões hertzianas, estas desde sempre assumidas pelo público como gratuitas. O sentimento de desvalorização estende-se às peças e artigos de opinião, a sofrerem os efeitos de uma banalização crescente, com os mesmos turbo-comentadores replicando por jornais, rádios e televisões, juízos cujo valor parece prender-se mais com o facto de os protagonistas serem supostamente conhecidos e menos devido à consistência das opiniões ou à validação pelo domínio dos temas. Com este pano de fundo, nivelado por um grau de estrita mediania, a satisfação da generalidade dos consumidores está garantida, pelo que resta ao jornalismo que se queira pago dirigir-se aos nichos de mercado que privilegiem uma cultura de exigência através de uma informação diferenciada e de uma opinião credível e validamente sustentada.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

UGC - a nova galinha dos ovos de ouro

Até há pouco tempo, a aposta da indústria dos media nos User-generated Contents (UGC), isto é, os conteúdos produzidos pelos utilizadores, centrava-se, sobretudo, no entretenimento: vídeos caseiros de "Apanhados", participação em concursos e passatempos na rádio e, mais recentemente, a utilização de protagonistas anónimos em emissões do tipo Big Brother e quejandos. Todavia, com o incremento dos programas interactivos envolvendo discussão de assuntos públicos, com a multiplicação de debates sobre tudo e mais alguma coisa em que, muitas vezes, não parece sequer relevante que as opiniões sejam banais e que não sejam validadas pelo conhecimento dos temas, foi engrossando o número de "convidados" produtores de conteúdos cada vez mais a entrarem no domínio da informação. O chamado jornalismo do cidadão deu o empurrão que faltava e o mais recente exemplo nesta viragem está aqui. Para os profissionais podem estar em causa os standards do jornalismo, mas para a indústria mediática a poupança conseguida com os conteúdos produzidos pelos utilizadores pode traduzir-se numa autêntica galinha de ovos de ouro.

domingo, 27 de maio de 2007

Princípios para uma literacia mediática

A Alliance for a Media Literate America está a propor aos seus membros a ratificação de um conjunto de princípios destinados a nortear as actividades de todos aqueles que se preocupam com a educação para uma literacia mediática. As principais linhas de força do documento são seis. A saber:

1. Media Literacy Education requires active inquiry and critical thinking about the messages we receive and create.
2. Media Literacy Education expands the concept of literacy (i.e., reading and writing) to include all forms of media.
3. Media Literacy Education builds and reinforces skills for learners of all ages. Like literacy, those skills necessitate integrated, interactive, and repeated practice.
4. Media Literacy Education develops informed, reflective and engaged participants essential for a democratic society.
5. Media Literacy Education recognizes that media are a part of culture and function as agents of socialization.
6. Media Literacy Education affirms that people use their individual skills, beliefs and experiences to construct their own meanings from media messages.


O desenvolvimento de cada um destes pontos dos Core Principles for Media Literacy Education pode ser encontrado aqui.

(dica de EDUCOMUNICAÇÃO / EDUCOMUNICACIÓN)

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Uma Revista de Imprensa para ser ouvida

Na Antena 1 (2ª a 6ª feira às 8h20) João Paulo Guerra edita, de forma irrepreensível, o modelo clássico de uma revista de imprensa na rádio: um texto encadeado com alusões às mais relevantes notícias dos diversos jornais, contextualizando referências, relacionando factos e fazendo ressaltar evidências menos óbvias, naquilo que pode ser considerado como um virtuoso exercício de escrita. Ademais, servido por uma postura altamente credível de enunciação, fruto da vasta experiência radiofónica do jornalista. É este modelo de revista de imprensa, que vem dos anos 60 e 70 do século passado, que se confronta agora com uma outra forma de divulgar aquilo que de mais importante e interessante têm para oferecer, aos potenciais leitores, os jornais e revistas.
No RCP (2ª a 6ª feira, entre as 7h e as 10h, com várias intervenções) Nuno Domingues, a sós às 7h55, e com a cumplicidade de João Adelino Faria depois das 8h, olham para a imprensa comentando a importância de uma notícia, avaliando a estética de uma mancha gráfica, sublinhando uma curiosidade neste ou naquele periódico, sem deixar de ter uma perspectiva transversal sobre temas comuns a diversos jornais ou revistas. Esta fórmula ressente-se, por vezes, da oralidade de uma improvisação que não é suficientemente preparada, mas não deixa de ser atractiva para quem quer conhecer tópicos do "mundo impresso" que lhe permitam fazer uma opção antes da compra deste ou daquele periódico e que, simultaneamente, não tem tempo nem disponibilidade para digerir, à hora do pequeno almoço, um exercício formal de escrita, por mais bem conseguido que ele seja, como é o caso da revista de imprensa assinada por João Paulo Guerra. Neste caso é o próprio modelo que evidencia uma das limitações que se põem a um texto escrito para a rádio emitida pela via hertziana: uma catadupa de ideias e um aprimoramento no estilo nem sempre se traduzem numa apreensão fácil e consequente por parte do ouvinte, que não tem hipótese de voltar atrás para apanhar um sentido que lhe escapou ou para reprocessar um raciocínio que não entendeu. No frenesim do actual dia-a-dia, a rádio não pode ter a pretensão de requerer o máximo de atenção dos ouvintes. No caso das revistas de imprensa, cumprirá, razoavelmente, a sua missão se, ao menos, conseguir chamar a atenção de quem ouve para aquilo que considera mais relevante nas publicações impressas.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Editor de política da RTP vai para Washington

Segundo o CM, a RTP já escolheu o próximo correspondente na capital dos Estados Unidos. O editor de política Vítor Gonçalves vai substituir em Washington o jornalista Pedro Bicudo, devendo passar a pasta a Maria Flor Pedroso, que desempenha as mesmas funções na Redacção da Antena 1. Um exílio dourado para quem não é visto como um dos seus pelo actual poder socialista?

sábado, 19 de maio de 2007

Nimesulida matou ou não matou em Portugal?

Quem ler a primeira página do "Diário de Notícias" de 19/05 não tem dúvidas. A manchete é clara: "Medicamento de risco já matou em Portugal". O texto da versão on-line que sustenta a primeira página também é peremptório: "Dez lesões hepáticas ocorridas em Portugal e uma resultou em morte". No mesmo dia, o título da página 11 do "Público" confirma que houve "Dez casos de reacções adversas em fármacos com nimesulida". Porém, a entrada da notícia do "Público" esclarece, desde logo, que "uma das situações comunicadas ao Infarmed foi fatal, mas não se provou relação com medicamento". O texto esclarece o motivo da falta de prova: "o doente em questão estava em simultâneo a tomar outros medicamentos". A explicação foi dada ao "Público" pelo presidente do Infarmed que é, curiosamente, a mesma fonte citada na notícia do "Diário de Notícias" sem que, todavia, este jornal esclareça que não se provou uma relação directa entre a única morte reportada em Portugal e a nimesulida. É sabido que a saúde é um dos temas mais sensíveis junto da opinião pública pelo que nunca será demais fornecer o máximo de informações relevantes por forma a evitar alarmismos desnecessários.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Infoinclusões...dos outros

«Remodelação cirúrgica». De Paulo Gorjão no Bloguítica.
"A Agência Lusa contactou...". De Manuel Pinto no Jornalismo & Comunicação.
Sempre a tempo de falar de uma Ordem. De João Paulo Menezes no Blogouve-se.

domingo, 13 de maio de 2007

Cidadãos e consumidores mediáticos

A interacção social que ocorre através da rádio está a contribuir para a vinculação entre produtores e consumidores. Quer seja através do podcasting, quer seja através da participação em múltiplos formatos de programas interactivos, os consumidores estão também a tornar-se produtores. Paralelamente, esbatem-se, cada vez mais, os papéis entre os consumidores/produtores e os cidadãos. Daqui resulta a emergência de uma vinculação crescente entre a cidadania e o consumo, como se pode ver, a seguir, num excerto da apresentação utilizada para a defesa pública de um trabalho cujo resumo está aqui. A realização daquele trabalho serviu para a obtenção do Diploma de Estudos Avançados na Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madrid.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A moda está a pegar...

Pela segunda vez, em poucos dias, responsáveis institucionais utilizaram os blogues para esclarecer as suas posições veiculadas anteriormente através da imprensa. No mês passado, e a pedido de JPMenezes do Blogouve-se, o ministro Augusto Santos Silva enviou ao blogue um esclarecimento exaustivo sobre o que queria dizer com a expressão "jornalismo de sarjeta", utilizada pelo ministro numa entrevista ao jornal Correio da Manhã. O autor do blogue considerou-se satisfeito com a explicação, mas o assunto não deixou de gerar uma interrogação e alguma polémica aqui e aqui. Hoje, foi a vez de Estrela Serrano, do Conselho Regulador da ERC, enviar um esclarecimento ao blogue Jornalismo & Comunicação, a propósito das notas publicadas por Manuel Pinto no referido blogue sobre a avaliação por parte da ERC do pluralismo na RTP noticiada em vários jornais. No final do esclarecimento, Estrela Serrano aproveita para se mostrar disponível "para outras explicações que sejam necessárias, para mais num espaço de tanta credibilidade como é este blog." Aparentemente, as dúvidas sobre o mesmo assunto, deixadas no blogue irreal tv por F. Rui Cádima em 19/4, e retomadas aqui em 11/5, não mereceram, até agora, qualquer esclarecimento por parte da ERC. Será por uma questão de falta de credibilidade do referido blogue?

Actualização a 12/5
Prossegue a utilização dos blogues para o "esclarecimento" dos comentários suscitados pelas notícias dos jornais. Porém, neste caso, Estrela Serrano não conseguiu fazer passar a mensagem perante os contra-argumentos do director do Observatório da Imprensa.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Causas, negócio e credibilidade

Na linha do que já havia feito no jornal A Capital, sem que isso tivesse impedido o colapso do título, Luís Osório cunhou agora o RCP como uma rádio de causas. A primeira acção está a decorrer até ao final deste mês e pretende envolver a estação radiofónica na luta contra o problema da fome. Independentemente dos valores éticos que, acredito, possam estar subjacentes a uma atitude deste género, não podemos nunca esquecer que os media são um negócio e a dita responsabilidade social dos meios de comunicação acaba, muitas vezes, por servir interesses bem mais prosaicos. Como refere a investigadora argentina Rosalia Winocur, no seu livro Ciudadanos Mediáticos, "los medios han descobierto que abrir los micrófonos y ponerse la camiseta de defensor del pueblo es un negocio redondo para obtener credibilidad". A frase resume tudo o que há para dizer sobre causas, o negócio dos media e a credibilidade. Porém, convém nunca esquecer que o intuito último decorrente desta trilogia - a credibilidade - não se conquista só com bandeiras, nem com voluntarismo. É um trabalho de todos os dias, de todas as horas, que não se compadece com logros ou enganos. Na terça-feira, 8 de Maio, primeiro dia da acção contra a fome, o RCP anuncia por duas vezes (às 8h30 e às 9h30) um depoimento de José Saramago a propósito do assunto. Curioso, o ouvinte fica na expectativa e, afinal, o que lhe dão a ouvir? Não um depoimento do escritor sobre a acção, mas apenas uma reportagem em Azinhaga com familiares de José Saramago onde é enxertada uma gravação de arquivo com a leitura, pelo escritor, de um texto sobre a fome.

Actualização a 10/5
Fui cordialmente informado, por fonte do RCP, que a gravação de José Saramago não era de arquivo, uma vez que foi pedido explicitamente ao escritor para ler alguns excertos do seu livro "Pequenas Memórias". Feita a rectificação pontual mantenho a convicção da pertinência da observação. Tecnicamente, um "depoimento" sobre um tema não é a leitura de um excerto de um livro, nem tão pouco uma reportagem que foi, afinal, aquilo que foi apresentado aos ouvintes.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Pina Moura de volta à A.R. ?

Segundo se pode ler aqui, Jaime Gama recebe hoje no Parlamento uma delegação da ELNET, a nova associação de lobistas da União Europeia. Desconhece-se se o recém-nomeado presidente da Media Capital, Pina Moura, tenciona aderir à associação tendo em conta que a justificação oficial para a sua escolha foram "os contactos na alta finança e na alta política", isto é, o seu poder de lóbi.

sábado, 5 de maio de 2007

As notícias e o desporto

Como se pode ver aqui, a má notícia é a falta de crédito de que dão mostra as fontes institucionais. A boa notícia é que já nem todo o jornalismo desportivo se limita a fazer vénias aos clubes.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Infoinclusões...dos outros

A segunda volta francesa e uma nota portuguesa. De Pedro Magalhães no Público de 30/4 (só para assinantes).
Sobre a entrada do socialista Pina Moura para a administração da Media Capital, que detém a TVI, e a "naturalidade" de, em qualquer democracia, os orgãos de comunicação social terem orientações políticas claras e conhecidas de todos: "Entre a imprensa e a televisão - porque é da segunda que estamos a falar - vai, em termos de alcance e impacto sobre as agendas políticas e o eleitorado, um mundo de diferença, que só a pequena minoria daqueles que julgam que o resto do país também lê jornais para consumir informação política pode ignorar. E talvez esse mundo de diferença ajude a explicar por que razão não se conseguirá - para além da repelente Fox News e da televisão italiana? encontrar facilmente exemplos de democracias fora da Europa de Leste e da América Latina onde canais de televisão dêem à sua informação uma orientação política e ideológica assumida."

sábado, 28 de abril de 2007

Ler no blogue ou no jornal?

O assunto é o mesmo. O autor do post é também co-autor da peça jornalística. Pode comparar as prosas aqui, aqui e aqui. E escolher a opção que prefere.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Infoinclusões...dos outros

Timings (in)oportunos (I de II). De Paulo Gorjão no Bloguitica.
O cardeal laico e a advogada do diabo. De João Alferes Gonçalves no Clube dos Jornalistas.
A pergunta que Judite não fez a Pina Moura. De Joaquim Vieira no Observatório da Imprensa.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Um manifesto sobre rádio (de antes do 25 de Abril)

Este é um texto, escrito em 1973, que decidi colocar on-line por ocasião da passagem de mais um aniversário do 25 de Abril de 1974. O manifesto serve para situar no contexto da rádio as preocupações e, simultaneamente, as limitações de quem, na altura, procurava valorizar vertentes emancipadoras e artísticas na indústria radiofónica em Portugal. Exemplos de emissões desta época podem ser ouvidos aqui.

sábado, 21 de abril de 2007

A PRISA e o poder político

Pina Moura até pode ter razão quando afirma aqui que "a PRISA é um grupo independente, porque não depende de nenhum partido". Ficaríamos, porém, mais tranquilos se pudéssemos ter a certeza de que, a bem da democracia, o poder político nunca ficará refém de nenhum poder empresarial.

Projectos profissionais e projectos políticos

Para quem tinha ilusões sobre o que representava a entrada da Prisa na Media Capital as declarações de Pina Moura ao Expresso têm o mérito de mostrar claramente o que está em jogo. O socialista, convidado para presidir ao Conselho de Administração da empresa proprietária da TVI, assume que continuará "a fazer política" mas agora nos média e garante que "não há nenhum projecto empresarial que não tenha objectivos políticos, nomeadamente na comunicação social". O "cardeal laico, republicano e socialista" consegue ser ainda mais transparente do que o "conde" de Anadia, a quem sucede no cargo. Pais do Amaral limitava-se a reconhecer que, para ele, o negócio dos média sempre foi um negócio como os outros.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Os produtos híbridos

A inovação que constituem os automóveis híbridos é apenas mais um sinal dos tempos no caminho que nos conduz ao futuro. Tal como nos veículos também nos media a tentativa de conjugação do melhor de dois ou mais mundos está a fazer carreira e parece ser esse o objectivo a atingir pelo menos ao nível do público do mainstream, porque as élites, essas, necessitarão sempre de produtos diferenciados. Não é por acaso que, nos EUA, o programa televisivo Daily Show, onde se conjuga a informação, o entretenimento e o activismo, capta já a maior parte do público entre os 18 e os 34 anos. Durante a campanha presidencial de 2004 o show recebeu mais espectadores daquela faixa etária do que os clássicos Nightline, Meet the Press, Hannity & Colmes e todas as emissões noticiosas da noite. Hoje em dia, é no Daily Show que grande parte dos jovens adultos norte-americanos busca o contacto com a realidade moldando os seus princípios de cidadania a partir de um programa cujo formato replica, com humor, uma emissão informativa clássica. Se transmutarmos o conceito para a realidade portuguesa facilmente concluímos que o programa "Diz que é uma Espécie de Magazine" dos Gato Fedorento é o exemplo de uma emissão que persegue objectivos similares tendendo a atingir o pleno no mesmo público-alvo. E já conseguiu impôr-se no mainstream chegando ao horário nobre da televisão pública nacional. Os diferentes formatos de informação e de entretenimento vão-se confundindo, cada vez mais, e não vale a pena diabolizar o infotainment tout court porque qualquer produto de consumo mediático, desde que seja profissionalmente conseguido e ética e deontológicamente irrepreensível, tem a mesma dignidade. Assim, uma emissão de informação e entretenimento pode ser tão importante para a prossecução dos valores de cidadania como um programa com um formato perfeitamente diferenciado como é o caso tratado neste resumo de um trabalho de investigação, onde se chega à conclusão de que não é mais possível manter em compartimentos estanques a cidadania e o consumo dos media. Mais não seja porque a política passou a adoptar as regras do mercado para o seu funcionamento, como se pode ler aqui (há quem diga que, hoje em dia, vota-se como quem compra e que estão em causa os próprios fundamentos da democracia). Neste contexto, a cidadania deixou de ser apenas sócio-política e passou a ter também uma dimensão cultural e uma dimensão económica, que a vincula necessariamente ao consumo. Assim, a emergência de produtos mediáticos híbridos, de que vínhamos falando, é o espelho desta realidade de confluência de valores e de instâncias até agora antagónicas e a generalização do infotainment, que recebeu um impulso decisivo com a televisão, está já a alastrar à rádio e aos jornais, embora convenha relembrar que a imprensa escrita nunca foi feita somente de informação pura e dura, sempre houve fait-divers e trivialidades à mistura com assuntos mais sérios, e na rádio a institucionalização do formato jornalístico tem pouco mais de três décadas. Vem isto a propósito das recentes reformulações editoriais no Diário de Notícias e no Rádio Clube Português. João Marcelino e Luís Osório protagonizam cada um daqueles dois projectos cujo objectivo é, assumidamente, ganhar mais leitores e mais ouvintes. Se no caso do Diário de Notícias, João Marcelino tenta conjugar dois géneros informativos alegadamente antagónicos - o jornalismo dito de referência e o jornalismo dito popular - relativamente ao Rádio Clube, Luís Osório desdobra a emissão apresentando ao longo do dia uma sucessão de diferentes formatos radiofónicos: informação pura e dura da manhã, informação mais light à tarde e programas de call in (de desporto e confessionais) à noite. Para o sucesso ou o fracasso que o DN e o RCP possam vir a ter deverão contribuir os dois aspectos acima referidos. Por um lado, o peso da marca ética e deontológica com que cada um dos responsáveis quiser cunhar o respectivo projecto. Por outro, o profissionalismo que conseguirem imprimir às equipas que dirigem. À partida, o desafio é igual para ambos. Porém, é bom lembrar que João Marcelino, quando chegou à redacção do DN, já nada lhe era estranho no mundo dos jornais, enquanto Luís Osório só quando chegou ao Rádio Clube começou verdadeiramente a entrar no mundo da rádio.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O RCP tem 220 mil ouvintes?

Já sabemos que as auto-promoções valem o que valem. Mas, por respeito aos ouvintes, convém que não enviesem escandalosamente o rigor. Ouve-se numa auto-promoção do RCP que a estação tem 220 mil ouvintes, número obtido com base nos 2,2% de Audiência Acumulada de Véspera (AAV) registados na 1ª vaga de 2007 do Bareme Rádio da Marktest. Aquele número estaria correcto se o Universo fossem 10 milhões de pessoas. Mas, como se pode ver aqui não é esse o Universo do estudo. Concretamente, são 8 milhões, trezentos e onze mil quatrocentos e nove indivíduos, com 15 ou mais anos, residentes em Portugal Continental. Daqui resulta que uma percentagem de 2,2% equivale exactamente a 182 mil ouvintes.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Turbo-comentadores

Já conhecíamos os "turbo-professores", que corriam de universidade em universidade a debitar a sua sapiência. Agora, parece estar a emergir a classe dos turbo-comentadores. O jornalista Carlos Magno, comentador político e colaborador permanente em dois programas da Antena 1, "Alma Nostra" e "Contraditório", deixava a sugestão às 9 da manhã no noticiário da rádio pública: os jornalistas que vão entrevistar José Sócrates, esta noite, deveriam começar por perguntar se o poderiam tratar por "sr. engenheiro" ou por "sr. primeiro-ministro". Às 6 da tarde, o mesmo Carlos Magno repetia a sugestão no noticiário do Rádio Clube Português.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Direito à honra e dever de informar

Quando o direito à honra se sobrepõe ao dever de informar factos comprovadamente verídicos, como se conta aqui, para que servem, afinal, os jornalistas?

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Portugueses criam cerca de 400 blogues por dia

As contas estão aqui. Para um real deve e haver conviria, no entanto, sabermos quantos blogues são abandonados todos os dias e quantos não são actualizados diariamente. É óbvio que contra mim falo...

sábado, 31 de março de 2007

As mentiras da democracia

Num assomo de inusitada sinceridade, o antigo ministro Mira Amaral disse ao semanário "Sol" que, nos dias de hoje, mentir "é uma obrigação da democracia". O actual gestor e ex-ministro não deve estar à espera que alguém acredite nele se um dia decidir voltar à vida política.

sexta-feira, 30 de março de 2007

O fim da ditadura dos "media" tradicionais

"Quem não aparece na imprensa, na rádio e, sobretudo, na televisão não existe". A frase, recorrente desde há um par de anos, começa a fazer cada vez menos sentido devido ao alargamento das redes sociais proporcionadas pela Internet. E o mais certo é chegarmos a uma altura em que se poderá dizer que só existe quem estiver na Internet. Os infoexcluídos mais segregados serão aqueles que não aparecem na rede, que não são capazes de utilizar esta plataforma. Com isto não quero dizer que os media tradicionais desapareçam. Admito, porém, que o seu canal de difusão principal será, porventura, o telefone móvel ligado à Internet e não o papel, as ondas hertzianas ou o fio do cabo. Aqueles que se adaptarem mais depressa à convergência de plataformas como neste exemplo ou neste ou ainda neste ganharão a corrida do reconhecimento público, da notoriedade e da influência. Aliàs, esta última passa cada vez menos pelo tradicional condicionamento através dos conteúdos e mais pela criatividade no conteúdo da forma (já McLuhan dizia que o meio era a mensagem!). Para não se perder o comboio digital é preciso estar atento aos sinais de mudança porque as plataformas de comunicação e partilha abertas com a Internet (e-mail, chat, you tube, my space, hi5) aceleraram as transformações no domínio da interacção. Por isso, conceitos como cidadania, consumo e produção, aplicados aos media, não podem mais ser vistos como até agora.

O futuro dos "media" sem mediadores? (II)

No futuro, grande parte dos mediadores actuais deverá vir a integrar a amálgama de cidadãos/produtores/consumidores, que alimentarão o mainstream mediático. Só se manterão como mediadores os profissionais de excelência, que servirão os nichos de mercado, as élites. Porém, enquanto os participantes de fóruns, os produtores de blogues e podcasts não forem absorvidos pela indústria do mainstream mediático, os precursores da utilização das redes sociais têm oportunidade para medir forças com os media tradicionais. Até porque, para exercer influência, desde que se tenha uma rede de difusão, o que conta é o prestígio e não a desproporção dos meios. As redes sociais da Internet evitam a relação assimétrica dos media tradicionais. No meu blogue, no meu podcast, edito o que quero, como quero, sem constrangimentos de espaço ou de tempo, nem de qualquer relação de dependência face ao medium. Eu defino as regras e a forma como quero aparecer e os media tradicionais ainda não se aperceberam que vão perder o exclusivo do palco, que vão ter de reparti-lo com as redes sociais. E, das duas uma, ou se profissionalizam am altíssimo grau trabalhando para nichos de mercado, ou então, não conseguem fazer melhor que os cidadãos/produtores/consumidores de media e deixam de fazer sentido. À medida que as redes sociais de cidadãos/produtores/consumidores se vão impondo aos media estes deixam de ter autonomia para influenciar em exclusivo e vão perdendo importância social.

TSF, 1- Fernando Correia, 0

Em Janeiro passado, a TSF despediu Fernando Correia invocando incompatibilidade entre o seu trabalho na estação de rádio e a direcção do jornal "Diário Desportivo" que o radialista iria assumir. Três meses depois é o próprio Fernando Correia que aqui reconhece a incompatibilidade entre a direcção do jornal e o trabalho no Rádio Clube Português, estação para onde, entretanto, se transferira.

A credibilidade dos comentadores

A maior ou menor credibilidade dos comentadores constrói-se também pela capacidade de distanciamento que, em determinados momentos-chave (atenção, não disse momentos Chavez!), conseguem assumir face a alguém da área política em que se inserem. Esta semana, na Quadratura do Círculo da Sic-Notícias, Pacheco Pereira revelou mais uma vez a sua heterodoxia ao criticar Cavaco Silva por excluir Mário Soares da homenagem aos protagonistas da integração europeia de Portugal. Alguém imagina Jorge Coelho ou António Vitorino a serem capazes de assumir posições semelhantes face a um peso-pesado da sua área política? Eu não.

RFM tem, finalmente, uma concorrente à altura?

Segundo o jornal M&P arranca hoje a M80, a nova rádio da Media Capital. Para já com um alcance geográfico limitado. Porém, o produto evidencia potencialidades para se impôr no mercado e expandir progressivamente a sua rede.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Abel Mateus na mira do DE

Invocando razões de mercado, esta manchete do DE dá, objectivamente, uma ajuda no desgaste da imagem do presidente da Autoridade da Concorrência (AdC) por quem o Governo, já se percebeu, não morre de amores.

terça-feira, 27 de março de 2007

Ainda há bons padrinhos...

É o que pensa António Mega Ferreira aqui. O pior é para aqueles que não são afilhados...

Uma notícia exemplar sem “ciganos”

Ouvem-se rádios, vêem-se televisões e lêem-se jornais e, na esmagadora maioria das notícias referentes ao desalojamento de famílias no bairro do Bacelo no Porto, como acontece aqui, aqui, aqui ou aqui, lá vem a menção à etnia cigana dos moradores, sem se perceber a necessidade de tal referência para o devido enquadramento da notícia. Todos aqueles que se insurgem, muito justamente, com o facto de nas notícias que envolvem ciganos como alegados agressores não dever ser feita qualquer referência à etnia esqueceram agora tais princípios quando os ciganos são apresentados como alegadas vítimas pelas organizações que enquadram politicamente o protesto contra o desalojamento. A reprodução acrítica desta perspectiva é um mau serviço prestado ao jornalismo que aparece condicionado pela terminologia e pela orquestração proposta pelas fontes. Neste caso, está de parabéns o DN que aqui refere os desalojados apenas como moradores sem menção à etnia o que, para o caso, não tem qualquer relevância.

segunda-feira, 19 de março de 2007

RCP corrigiu o tiro

O alvo é a eleição do português mais importante da história da televisão e da rádio. O concurso foi apresentado no programa "Minuto a Minuto", de João Adelino Faria, a 7 de Março. Na altura, chamou-se aqui a atenção para o facto de um programa de informação estar a dar cobertura à realização de um concurso através de televotos. De então para cá, a iniciativa foi reposicionada. A prometida emissão especial do "Minuto a Minuto", anunciada para dia 20 de Março no link "O Português mais importante" e onde deveria ser divulgada a classificação, foi transferida para o programa da tarde "Janela Aberta", uma emissão mais facilmente enquadrável no conceito de infotainment, tanto mais que é conduzida por uma jornalista em parceria com um entertainer.

ACTUALIZAÇÃO A 22 de Março - O conteúdo do link "O Português mais importante" acima referido foi, entretanto, substituído por um outro texto que dá conta dos resultados do concurso. Para que se entenda o sentido do post anterior reproduz-se aqui o texto para o qual remetia o prévio link:
"Os ouvintes do Rádio Clube vão escolher quem é o português mais importante da história da televisão e da rádio. No Minuto a Minuto, João Adelino Faria já divulgou os nomeados. Agora, até ao próximo dia 19, são os ouvintes do Rádio Clube que vão escolher o melhor entre os melhores. Depois, no dia 20, numa emissão especial do 'Minuto a Minuto', João Adelino Faria vai moderar um grande debate entre figuras da televisão e da rádio e, obviamente, anunciar a classificação."

domingo, 18 de março de 2007

O futuro dos "media" sem mediadores?

A crescente interactividade proporcionada pelos media origina que os consumidores estão a tornar-se cada vez mais os produtores daquilo que consomem, num registo de circularidade que marca a era digital. Neste sentido, o circuito tende a fechar-se directamente entre produtores e consumidores, sem haver lugar a mediadores. Esta ligação directa entre produtores e consumidores terá outra consequência: mais tarde ou mais cedo a situação implicará o desvio das compensações atribuídas até agora aos mediadores para retribuir a componente produtiva dos consumidores. Estes, por enquanto, ainda se satisfazem com a abertura do palco que lhes é proporcionada consumando o egocasting e até admitem pagar para participar nos media, como pode ser visto neste resumo de um trabalho académico. Porém, há-de chegar uma altura em que os consumidores reivindicarão prestações pecuniárias, tal qual os profissionais que funcionam actualmente como mediadores. Seja como for, a concorrência será cada vez maior, devido ao espectro alargado de candidatos ao protagonismo, uma situação que servirá para a indústria refrear as veleidades retributivas dos cidadãos/consumidores. Nesse tempo, a cidadania será um conceito muito mais lato do que é hoje e o consumo não terá a carga condicionante que ainda mantém. Os consumos, ligados directamente à produção e à satisfação de necessidades cada vez mais individualizadas, serão entendidos como emancipadores, tal qual os contributos que cada um efectivar com vista a uma alargada participação cidadã.

terça-feira, 13 de março de 2007

Cidadãos e consumidores

A comissária europeia Meglena Kuneva quer "dar voz e poder aos 493 milhões de consumidores para moldarem o mercado na era da Internet." Segundo o DE, "com o projecto da Europa política suspenso e uma Comissão orientada para o mercado, a Europa dos cidadãos cede caminho à dos consumidores." Todavia, o cerne da questão não está em colocar dicotomicamente a Europa política e a Europa do mercado. O facto é que as duas realidades coexistem, estão cada vez mais interligadas e a situação verifica-se também ao nível dos consumos mediáticos, como se pode ver por aqui. Quem não quiser conceber este entrosamento, entre cidadania e consumo, arrisca-se a não arranjar chaves para abrir as portas do futuro.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Director adjunto de informação apresenta concurso

É a primeira deriva notória a caminho do entretenimento naquele que foi apresentado como o espaço privilegiado de informação do novo RCP. O director adjunto de informação, João Adelino Faria, que é também o pivot do programa "Minuto a Minuto", diariamente entre as 7 da manhã e o meio-dia, lançou ontem um "concurso" destinado a eleger a "personalidade nacional de televisão e rádio", conforme pode ser lido aqui. A 20 de Março, João Adelino Faria apresenta um programa especial para revelar os escolhidos pelo público do Rádio Clube. É óbvio que não está em causa a legitimidade pela opção deste formato de entretenimento. O que parece menos curial é a sua apresentação pelo director adjunto de informação e não por um outro apresentador ou animador da estação. Este episódio vem reforçar a conclusão a que se chegava aqui. Para os jornalistas, nomeadamente nos audiovisuais, está a tornar-se cada vez mais difícil conviver com as fronteiras entre a informação e o entretenimento.

terça-feira, 6 de março de 2007

A Renascença não dorme...

Os ouvintes anónimos vão ser as futuras caras da Mega FM. Segundo o DE, vai ser proposto aos ouvintes que sejam eles a construir a comunicação da rádio. Este é mais um passo na interacção entre emissores e receptores. A confluência de papéis nos media, favorecida pela evolução tecnológica, está a criar um novo paradigma onde se misturam, por um lado, as noções de cidadania e consumo, como pode ser visto aqui, e, por outro, proporciona mais do que uma simbiose, gerando uma apropriação dos media tradicionais pelos utilizadores que dá que pensar sobre o que será, no futuro, o papel dos actuais profissionais.

domingo, 4 de março de 2007

A censura na rádio antes do 25 de Abril

Antes do 25 de Abril de 1974, o lápis azul da censura também se fazia sentir na rádio embora a actuação dos vigilantes do regime esteja mais largamente documentada na imprensa. Na rádio oficial, a Emissora Nacional, eram os próprios responsáveis internos quem determinava os conteúdos que podiam ou não ser emitidos. O documento que se segue corresponde ao guião da rubrica "Transmutação" elaborada por José Cerejeira, Vítor Soares e Vítor Abrantes Pereira para o programa juvenil "Abertura 1.6", realizado por Fernando Balsinha e Salvador Alves Dias, em 1971. O corte assinalado pelo Chefe de Repartição de Programas Literários e Científicos - Secção de Programas Dramáticos limitava-se a reproduzir uma citação de uma funcionária do Gabinete de Estudos Sociais da Direcção-Geral da Assistência, um organismo do Estado. Ainda assim, a frase de Helena Cidade Moura não passou no crivo da censura.

Um outro guião da rubrica "Transmutação", submetido ao visto prévio na mesma data (27 de Março de 1971), teve ainda menos complacência por parte dos censores. Levou um corte de alto a baixo, o que inviabilizou a sua realização. Tratava-se de uma produção feita com base no poema de Thiago de Melo "Estatutos do Homem", na altura largamente difundido através de um poster com venda pública autorizada e que muitos jovens portugueses escolarizados exibiam nas paredes dos seus quartos. Para a fúria censória terá certamente contribuído a sonorização feita com faixas musicais de autores que assumiam algum tipo de compromisso social e que embora não estivessem no index de músicas proíbidas de passar na rádio ganhavam outra dimensão ao serem entrosadas no poema. De resto, após as primeiras emissões da rubrica, em que apenas nos pediam o texto para submeter ao visto prévio, os autores foram sendo compelidos a especificar também as músicas nos respectivos guiões.
Os dois documentos seguintes referem-se a textos "não aprovados" destinados a um programa de jovens universitários de Luanda, em 1973/74, e do qual podem ser ouvidas duas emissões mais abaixo. No primeiro caso, a "Carta à minha professora" era a reprodução de um poema publicado num jornal angolano, mas que não teve autorização para ser lido na rádio. O segundo texto foi elaborado a partir de uma notícia e o motivo do corte foi a expressão assinalada a vermelho que, presumivelmente, abalava a decência e os bons costumes do censor.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Descubra as diferenças...

Entre a central de comunicação do Governo de Santana Lopes, vetada por Jorge Sampaio, e o Gabinete para os Meios de Comunicação Social, cuja orgânica foi hoje aprovada em Conselho de Ministros (via ContraFactos).

domingo, 25 de fevereiro de 2007

A forma e o conteúdo no novo RCP

Pondo de parte alguns percalços técnicos, parcialmente justificáveis na fase de ajustamento de um novo projecto, já é possível ter uma ideia sobre as questões de forma do novo RCP. E, desde já, parecem indesculpáveis aspectos do trabalho de pós-produção e difusão que configuram, antes de mais, desrespeito pelos ouvintes, designadamente a colocação no ar de programas pré-gravados com incongruências de linguagem relativamente ao tempo. Aqui fica um exemplo entre vários possíveis. Era terça-feira de Carnaval, 20 de Fevereiro, às 15h50 e a animadora Teresa Gonçalves diz: "Atenção às notícias das 3, vai ficar a saber da actualidade deste sábado". Aliàs, é comum a repetição de programas já apresentados, há vários dias, sem qualquer aviso prévio: a "Torre de Babel" de sábado, 17 de Fevereiro, foi repetida na terça-feira de Carnaval, deixando evidenciar o desfazamento temporal de alguns conteúdos incluídos no programa.
Outro aspecto nitidamente menorizado é a identidade sonora da estação que deixa ainda muito a desejar. Os jingles, os spots, as cortinas musicais, todas as marcas identificadoras do novo RCP são pouco expressivas e pouco apelativas. E, por maioria de razão, numa rádio de palavra as "respirações" proporcionadas pela linguagem sonora da estação são decisivas para o bom equilíbrio e agradabilidade no conforto de escuta. Sobre a qualidade radiofónica das vozes em antena, a dupla Aurélio Gomes/Teresa Gonçalves sobressai facilmente num contexto em que o acesso ao microfone é facultado a quem quer que seja, tenha ou não voz e preparação para isso. De resto, é comum na rádio dos nossos dias, confundir-se informalidade com falta de postura profissional, o que dá origem a muitos equívocos.
Apenas por uma razão metodológica as questões de forma foram aqui referidas separadamente, sabendo nós que é mais correcto pensá-las como questões de conteúdo. Todavia, ao descurarem abertamente algumas questões de forma, os responsáveis pelo projecto deixam indiciar que o conteúdo pode ter aqui um sentido meramente instrumental. Com que intuitos? Essa é uma pergunta a que só será possível responder mais tarde, após a estabilização do projecto, e depois de ser feita uma detalhada análise de conteúdo.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Sinal dos tempos

A fronteira entre informação e entretenimento, nos audiovisuais, vai-se esbatendo todos os dias mais um pouco. Segundo refere o JN, a festa de aniversário da TVI teve "muito entretenimento, curiosamente feito só pelos elementos da informação".



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Ouve-se e não se acredita...

Às nove e meia da manhã o RCP apresenta uma notícia própria em destaque com o seguinte título: "Não se sabe ainda se há risco de contágio para os humanos em novas formas da doença das vacas loucas detectadas nos bovinos". Qual é o efeito duma notícia apresentada desta maneira? Cria alarmismo desnecessário entre a população.

Na mouche!

Sobre o futuro dos jornais...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Os novos consumos mediáticos

Na sequência do post “Pensar os jornais” de JPP, do feedback de leitores do ABRUPTO, e dos contributos para o debate lançados nos blogues INDÚSTRIAS CULTURAIS e BLOGUITICA, permito-me dar uma achega centrando-me no âmbito da interacção, apontada por PG como a saída para a crise por que passam os jornais. Ao competir com os novos consumos mediáticos gerados pelos audiovisuais e pela rede, a imprensa (nomeadamente a dita “de referência”) pode chegar a soluções para o impasse em que se encontra tirando partido das conclusões a que se vai chegando com as experiências interactivas noutros media. Neste resumo, que documenta um trabalho feito por mim no âmbito de um programa doutoral, pode ver-se como a interacção deixou de ser um fenómeno linear, sem estar exclusivamente vinculada quer a aspectos de consumo, por um lado, ou a aspectos de cidadania, por outro. Em vez disso, parece cada vez mais claro que a interacção estabelece correlações com a cidadania e com o consumo a partir de uma lógica em que uma nova prática cidadã interage directamente com a cultura do consumo através de um modelo de convivência que gera um novo paradigma de cidadania e que transforma o receptor em produtor. Assim, a crescente interacção vivida através dos media ajuda a explicar a emergência do conceito de cidadãos-consumidores, no qual a cidadania deixa de ter apenas uma dimensão sócio-política, mas passa também a ter uma dimensão sócio-comunicacional, cultural e económica. Por todo este conjunto de razões, a mudança em curso no sentido dos consumos mediáticos interactivos não pode deixar de levar em linha de conta que o perfil dos cidadãos (das elites e não só) se alterou e que tal como diz Pacheco Pereira “é preciso ir mais longe na análise da crise e pensar as questões de forma (…) como questões de conteúdo”.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Um programa de rádio com 33 anos


Chamava-se "Rádio Nova, Rádio Nossa" e era um programa realizado por um grupo de jovens, em Luanda, no ano de 1974. A difusão era facultada pela Emissora Oficial de Angola. As duas emissões que pode ouvir aqui e aqui dão uma ideia das estratégias possíveis para furar as malhas da censura pouco tempo antes do 25 de Abril. Neste caso, valia o recurso ao nonsense e ao absurdo, temperados com ironia q.b.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

"A ERC ainda não é mas vai ser tranquilamente aceite"

José Azeredo Lopes, presidente do conselho regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), em declarações ao Jornal de Negócios, aposta na tranquilidade, seguindo as pisadas do treinador do Sporting, Paulo Bento.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

RCP - uma rádio de convidados

Ela aí está. Finalmente. A rádio que faltava em Portugal: uma rádio de convidados. Luís Osório tinha razão quando anunciava a presença de dezenas de convidados em cada dia como o grande valor acrescentado que o novo RCP vinha trazer à rádio portuguesa. De opinion-makers da política a cantores pimba, de astrólogos a sociólogos, do talhante do bairro ao ministro, todos têm lugar na “rede de influência” gerada pela abertura do microfone a uma plêiade de protagonistas, sejam eles pouco conhecidos ou determinantes figuras públicas. No geral, têm em comum a expectativa de uns minutos de fama consagrada neste modelo radiofónico. Por isso mesmo, nunca vão faltar convidados, mesmo que, por vezes, possa parecer discutível o interesse do discurso público deste ou daquele protagonista. No fundo, é levar ao extremo a lógica dos já testados fóruns radiofónicos (a forma mais barata de fazer rádio) com a economia de recursos que o modelo propicia aos operadores que, simultaneamente, podem apresentar o alargamento do espaço público como um valor acrescentado de ordem social. À rádio cabe disponibilizar o palco deixando brilhar o “you”, a personalidade do ano 2006 consagrada pela revista TIME. O público em geral, cada um de nós, vai gradualmente assumindo o papel anteriormente destinado aos profissionais dos media a quem vai restando fazer a figura de compère por mais diligente e bem intencionada que, à partida, seja a sua actuação. Aos jornalistas dos audiovisuais, nomeadamente, coloca-se de uma forma cada vez mais nítida a questão se o que fazem ainda é informação ou simplesmente entretenimento.

Sociedade da informação ou do entretenimento?

Até ao último quartel do Século XX, o conhecimento resultava, em grande medida, do processamento da informação. As reformas pedagógicas e educativas, por um lado, e a massificação da informação, por outro, originaram que o conhecimento seja processado, cada vez mais, a partir de formulações do entretenimento.