quinta-feira, 31 de maio de 2007

UGC - a nova galinha dos ovos de ouro

Até há pouco tempo, a aposta da indústria dos media nos User-generated Contents (UGC), isto é, os conteúdos produzidos pelos utilizadores, centrava-se, sobretudo, no entretenimento: vídeos caseiros de "Apanhados", participação em concursos e passatempos na rádio e, mais recentemente, a utilização de protagonistas anónimos em emissões do tipo Big Brother e quejandos. Todavia, com o incremento dos programas interactivos envolvendo discussão de assuntos públicos, com a multiplicação de debates sobre tudo e mais alguma coisa em que, muitas vezes, não parece sequer relevante que as opiniões sejam banais e que não sejam validadas pelo conhecimento dos temas, foi engrossando o número de "convidados" produtores de conteúdos cada vez mais a entrarem no domínio da informação. O chamado jornalismo do cidadão deu o empurrão que faltava e o mais recente exemplo nesta viragem está aqui. Para os profissionais podem estar em causa os standards do jornalismo, mas para a indústria mediática a poupança conseguida com os conteúdos produzidos pelos utilizadores pode traduzir-se numa autêntica galinha de ovos de ouro.

domingo, 27 de maio de 2007

Princípios para uma literacia mediática

A Alliance for a Media Literate America está a propor aos seus membros a ratificação de um conjunto de princípios destinados a nortear as actividades de todos aqueles que se preocupam com a educação para uma literacia mediática. As principais linhas de força do documento são seis. A saber:

1. Media Literacy Education requires active inquiry and critical thinking about the messages we receive and create.
2. Media Literacy Education expands the concept of literacy (i.e., reading and writing) to include all forms of media.
3. Media Literacy Education builds and reinforces skills for learners of all ages. Like literacy, those skills necessitate integrated, interactive, and repeated practice.
4. Media Literacy Education develops informed, reflective and engaged participants essential for a democratic society.
5. Media Literacy Education recognizes that media are a part of culture and function as agents of socialization.
6. Media Literacy Education affirms that people use their individual skills, beliefs and experiences to construct their own meanings from media messages.


O desenvolvimento de cada um destes pontos dos Core Principles for Media Literacy Education pode ser encontrado aqui.

(dica de EDUCOMUNICAÇÃO / EDUCOMUNICACIÓN)

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Uma Revista de Imprensa para ser ouvida

Na Antena 1 (2ª a 6ª feira às 8h20) João Paulo Guerra edita, de forma irrepreensível, o modelo clássico de uma revista de imprensa na rádio: um texto encadeado com alusões às mais relevantes notícias dos diversos jornais, contextualizando referências, relacionando factos e fazendo ressaltar evidências menos óbvias, naquilo que pode ser considerado como um virtuoso exercício de escrita. Ademais, servido por uma postura altamente credível de enunciação, fruto da vasta experiência radiofónica do jornalista. É este modelo de revista de imprensa, que vem dos anos 60 e 70 do século passado, que se confronta agora com uma outra forma de divulgar aquilo que de mais importante e interessante têm para oferecer, aos potenciais leitores, os jornais e revistas.
No RCP (2ª a 6ª feira, entre as 7h e as 10h, com várias intervenções) Nuno Domingues, a sós às 7h55, e com a cumplicidade de João Adelino Faria depois das 8h, olham para a imprensa comentando a importância de uma notícia, avaliando a estética de uma mancha gráfica, sublinhando uma curiosidade neste ou naquele periódico, sem deixar de ter uma perspectiva transversal sobre temas comuns a diversos jornais ou revistas. Esta fórmula ressente-se, por vezes, da oralidade de uma improvisação que não é suficientemente preparada, mas não deixa de ser atractiva para quem quer conhecer tópicos do "mundo impresso" que lhe permitam fazer uma opção antes da compra deste ou daquele periódico e que, simultaneamente, não tem tempo nem disponibilidade para digerir, à hora do pequeno almoço, um exercício formal de escrita, por mais bem conseguido que ele seja, como é o caso da revista de imprensa assinada por João Paulo Guerra. Neste caso é o próprio modelo que evidencia uma das limitações que se põem a um texto escrito para a rádio emitida pela via hertziana: uma catadupa de ideias e um aprimoramento no estilo nem sempre se traduzem numa apreensão fácil e consequente por parte do ouvinte, que não tem hipótese de voltar atrás para apanhar um sentido que lhe escapou ou para reprocessar um raciocínio que não entendeu. No frenesim do actual dia-a-dia, a rádio não pode ter a pretensão de requerer o máximo de atenção dos ouvintes. No caso das revistas de imprensa, cumprirá, razoavelmente, a sua missão se, ao menos, conseguir chamar a atenção de quem ouve para aquilo que considera mais relevante nas publicações impressas.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Editor de política da RTP vai para Washington

Segundo o CM, a RTP já escolheu o próximo correspondente na capital dos Estados Unidos. O editor de política Vítor Gonçalves vai substituir em Washington o jornalista Pedro Bicudo, devendo passar a pasta a Maria Flor Pedroso, que desempenha as mesmas funções na Redacção da Antena 1. Um exílio dourado para quem não é visto como um dos seus pelo actual poder socialista?

sábado, 19 de maio de 2007

Nimesulida matou ou não matou em Portugal?

Quem ler a primeira página do "Diário de Notícias" de 19/05 não tem dúvidas. A manchete é clara: "Medicamento de risco já matou em Portugal". O texto da versão on-line que sustenta a primeira página também é peremptório: "Dez lesões hepáticas ocorridas em Portugal e uma resultou em morte". No mesmo dia, o título da página 11 do "Público" confirma que houve "Dez casos de reacções adversas em fármacos com nimesulida". Porém, a entrada da notícia do "Público" esclarece, desde logo, que "uma das situações comunicadas ao Infarmed foi fatal, mas não se provou relação com medicamento". O texto esclarece o motivo da falta de prova: "o doente em questão estava em simultâneo a tomar outros medicamentos". A explicação foi dada ao "Público" pelo presidente do Infarmed que é, curiosamente, a mesma fonte citada na notícia do "Diário de Notícias" sem que, todavia, este jornal esclareça que não se provou uma relação directa entre a única morte reportada em Portugal e a nimesulida. É sabido que a saúde é um dos temas mais sensíveis junto da opinião pública pelo que nunca será demais fornecer o máximo de informações relevantes por forma a evitar alarmismos desnecessários.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Infoinclusões...dos outros

«Remodelação cirúrgica». De Paulo Gorjão no Bloguítica.
"A Agência Lusa contactou...". De Manuel Pinto no Jornalismo & Comunicação.
Sempre a tempo de falar de uma Ordem. De João Paulo Menezes no Blogouve-se.

domingo, 13 de maio de 2007

Cidadãos e consumidores mediáticos

A interacção social que ocorre através da rádio está a contribuir para a vinculação entre produtores e consumidores. Quer seja através do podcasting, quer seja através da participação em múltiplos formatos de programas interactivos, os consumidores estão também a tornar-se produtores. Paralelamente, esbatem-se, cada vez mais, os papéis entre os consumidores/produtores e os cidadãos. Daqui resulta a emergência de uma vinculação crescente entre a cidadania e o consumo, como se pode ver, a seguir, num excerto da apresentação utilizada para a defesa pública de um trabalho cujo resumo está aqui. A realização daquele trabalho serviu para a obtenção do Diploma de Estudos Avançados na Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madrid.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A moda está a pegar...

Pela segunda vez, em poucos dias, responsáveis institucionais utilizaram os blogues para esclarecer as suas posições veiculadas anteriormente através da imprensa. No mês passado, e a pedido de JPMenezes do Blogouve-se, o ministro Augusto Santos Silva enviou ao blogue um esclarecimento exaustivo sobre o que queria dizer com a expressão "jornalismo de sarjeta", utilizada pelo ministro numa entrevista ao jornal Correio da Manhã. O autor do blogue considerou-se satisfeito com a explicação, mas o assunto não deixou de gerar uma interrogação e alguma polémica aqui e aqui. Hoje, foi a vez de Estrela Serrano, do Conselho Regulador da ERC, enviar um esclarecimento ao blogue Jornalismo & Comunicação, a propósito das notas publicadas por Manuel Pinto no referido blogue sobre a avaliação por parte da ERC do pluralismo na RTP noticiada em vários jornais. No final do esclarecimento, Estrela Serrano aproveita para se mostrar disponível "para outras explicações que sejam necessárias, para mais num espaço de tanta credibilidade como é este blog." Aparentemente, as dúvidas sobre o mesmo assunto, deixadas no blogue irreal tv por F. Rui Cádima em 19/4, e retomadas aqui em 11/5, não mereceram, até agora, qualquer esclarecimento por parte da ERC. Será por uma questão de falta de credibilidade do referido blogue?

Actualização a 12/5
Prossegue a utilização dos blogues para o "esclarecimento" dos comentários suscitados pelas notícias dos jornais. Porém, neste caso, Estrela Serrano não conseguiu fazer passar a mensagem perante os contra-argumentos do director do Observatório da Imprensa.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Causas, negócio e credibilidade

Na linha do que já havia feito no jornal A Capital, sem que isso tivesse impedido o colapso do título, Luís Osório cunhou agora o RCP como uma rádio de causas. A primeira acção está a decorrer até ao final deste mês e pretende envolver a estação radiofónica na luta contra o problema da fome. Independentemente dos valores éticos que, acredito, possam estar subjacentes a uma atitude deste género, não podemos nunca esquecer que os media são um negócio e a dita responsabilidade social dos meios de comunicação acaba, muitas vezes, por servir interesses bem mais prosaicos. Como refere a investigadora argentina Rosalia Winocur, no seu livro Ciudadanos Mediáticos, "los medios han descobierto que abrir los micrófonos y ponerse la camiseta de defensor del pueblo es un negocio redondo para obtener credibilidad". A frase resume tudo o que há para dizer sobre causas, o negócio dos media e a credibilidade. Porém, convém nunca esquecer que o intuito último decorrente desta trilogia - a credibilidade - não se conquista só com bandeiras, nem com voluntarismo. É um trabalho de todos os dias, de todas as horas, que não se compadece com logros ou enganos. Na terça-feira, 8 de Maio, primeiro dia da acção contra a fome, o RCP anuncia por duas vezes (às 8h30 e às 9h30) um depoimento de José Saramago a propósito do assunto. Curioso, o ouvinte fica na expectativa e, afinal, o que lhe dão a ouvir? Não um depoimento do escritor sobre a acção, mas apenas uma reportagem em Azinhaga com familiares de José Saramago onde é enxertada uma gravação de arquivo com a leitura, pelo escritor, de um texto sobre a fome.

Actualização a 10/5
Fui cordialmente informado, por fonte do RCP, que a gravação de José Saramago não era de arquivo, uma vez que foi pedido explicitamente ao escritor para ler alguns excertos do seu livro "Pequenas Memórias". Feita a rectificação pontual mantenho a convicção da pertinência da observação. Tecnicamente, um "depoimento" sobre um tema não é a leitura de um excerto de um livro, nem tão pouco uma reportagem que foi, afinal, aquilo que foi apresentado aos ouvintes.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Pina Moura de volta à A.R. ?

Segundo se pode ler aqui, Jaime Gama recebe hoje no Parlamento uma delegação da ELNET, a nova associação de lobistas da União Europeia. Desconhece-se se o recém-nomeado presidente da Media Capital, Pina Moura, tenciona aderir à associação tendo em conta que a justificação oficial para a sua escolha foram "os contactos na alta finança e na alta política", isto é, o seu poder de lóbi.

sábado, 5 de maio de 2007

As notícias e o desporto

Como se pode ver aqui, a má notícia é a falta de crédito de que dão mostra as fontes institucionais. A boa notícia é que já nem todo o jornalismo desportivo se limita a fazer vénias aos clubes.