domingo, 18 de novembro de 2007

"Debate Público" no RCP - interacção para a informação ou para o entretenimento?

O programa interactivo "Debate Público", no RCP (2ª a 6ª das 12h00 às 13h30), deu mais um passo para a descredibilização, dirão uns, ou para a assunção, dirão outros (entre os quais me incluo), de que este tipo de emissões dificilmente pode ser compaginado com regras jornalísticas estritas. Nos audiovisuais portugueses esta é a primeira vez que um programa que procura a expressão de pontos de vista privados sobre assuntos públicos (the expressive phone-in na terminologia de Andrew Crisell) é conduzido, não por jornalistas (Teresa Gonçalves tem número de Carteira Profissional mas há muito que deixou de exercer funções jornalísticas), mas por animadores/locutores, apesar de a interacção suscitada no programa não ter a ver com meras intervenções exibicionistas ou confessionais para as quais o animador/locutor estará profissionalmente mais vocacionado.

Ademais, acontece que Aurélio Gomes e Teresa Gonçalves (cujo profissionalismo não está, obviamente, em causa) são exactamente os mesmos profissionais que, das 16h00 às 17h00, apresentam a chamada "Hora Rosa-Chique", com temas das chamadas revistas cor-de-rosa, ambos os programas englobados num mesmo espaço radiofónico - "Escolhidos a dedo" - cujo lema é todo ele uma filosofia: "informação, entretenimento e vida social". E nesta amálgama está tudo dito: no que aos audiovisuais diz respeito, os assuntos públicos, as questões de cidadania, dificilmente escapam a um tratamento fora do âmbito do entretenimento e do consumo.

Ao apropriarem-se dos assuntos públicos, a rádio e a televisão (e as emissoras privadas por maioria de razão), tendem a fazer espectáculo com tais questões por forma a rendibilizar o investimento feito. E, mesmo nas emissoras públicas, há quem duvide de que, nos programas interactivos, seja possível manter o "rigor informativo" e sustente que tais programas "apesar de tratados pela informação e por jornalistas constituem espaços fortemente especulativos".

Assim sendo, pode dizer-se que, no espaço público da rádio, a interacção para a cidadania é cada vez menos dicotómica com a interacção para o consumo, como se concluiu aqui, pelo que, nos audiovisuais em geral, a interacção para a informação e para o entretenimento serão duas faces de uma mesma moeda e estarão, cada vez mais, de mão dada.

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