domingo, 30 de agosto de 2009

O fim d(est)a linha

Desde o início, este blogue teve como objectivo ajudar a consolidar as actividades académicas, em que tenho estado envolvido nos últimos anos, alimentando-as com o histórico e a sedimentação da minha prévia experiência profissional. Por tal motivo, o aspecto lúdico foi sempre secundarizado em favor de um instrumento que se pretendia, acima de tudo, como de trabalho.

Pelas razões que explico nos últimos três parágrafos desta autobiografia curricular, o blogue deixou de ter razão de existir. Assim sendo, parto para outra linha blogosférica onde vou continuar a fazer coro com o meu amigo Viriato. Aqui.

domingo, 23 de agosto de 2009

Eu prefiro a Internet

Para quem quer estar informado, sobre a actualidade política e económica, os media tradicionais são uma decepção. Os jornais fornecem muita intriga e pouca informação; as televisões mostram muito espectáculo e a informação é residual; as rádios, de uma maneira geral, não têm intriga nem espectáculo, mas a informação jornalística que disponibilizam é irrelevante.

Por isso, eu prefiro a Internet. Na rede, tenho acesso àqueles media e a outros e posso fazer a minha própria edição daquilo que verdadeiramente me interessa, expurgando a intriga e o espectáculo da informação jornalística.

terça-feira, 28 de julho de 2009

O pecado original do RCP

O projecto do RCP, desenvolvido sob a liderança de Luís Osório, teve um pecado original que, deve dizer-se em abono da verdade, não passou sequer pela opção do formato - a chamada rádio de palavra.

Desde o início, a estratégia da Prisa foi clara: envolver os agentes políticos, económicos, culturais e desportivos, convidando protagonistas para as mais variadas participações na emissão num registo em que o jornalismo e a promoção se confundiam bastas vezes. Começando por alimentar vaidades pessoais e seduzindo instituições, o RCP procurava, posteriormente, replicar noutros agentes o seu grau de influência, alargando assim o poder da estação de rádio no conjunto da sociedade.

Só que, quem participa fica sempre à espera de algum tipo de retorno, mais que não seja ao nível da visibilidade e da notoriedade. A partir do momento em que o reconhecido poder do grupo Prisa não foi tendo tradução nas audiências a influência do RCP foi-se desvanecendo.

É preciso que se diga que o busílis da questão está sempre na consistência com que o projecto é executado. Se não houver estabilidade, suportada por uma liderança credível e coerente, não há marketing que disfarce a situação. Ao fim de algum tempo, terminado o benefício da dúvida, a capacidade para seduzir os agentes vai diminuindo e a ambição pela capacidade de influência morre na praia.

No caso presente, uma a uma foram falhando as apostas da estação porque o RCP teve um pecado original chamado Luís Osório. O director-geral da estação não conseguiu estabilizar a equipa e os exemplos foram-se multiplicando: os directores de programas e de informação não aqueciam o lugar, os lugares da restante estrutura eram periodicamente alterados e as entradas e saídas de pessoas sucediam-se a um ritmo assinalável, entre as quais um número significativo de estagiários. Quanto aos profissionais que iam ficando, exceptuando o grupo de indefectíveis que constituía o núcleo duro do director-geral, acabavam por se conformar perante a falta de uma alternativa laboral consistente. Acrescem a isto, as constantes mudanças na grelha de programas e as apostas em "estrelas" que, sucessivamente, se vinham a revelar erros de casting.

Devo ainda dizer que, após a avaliação pessoal que fiz no final de 2005 e que me levou a abandonar o projecto no ano seguinte, nada do que se passou posteriormente me espantou sobremaneira. De resto, não haveria muito mais a esperar de quem, há quase quatro anos, chegou à Media Capital com um histórico lastimável no jornal A Capital a que juntou, apressadamente, uns conceitos sobre rádio colados a cuspo e umas ideias assopradas ao ouvido a propósito da estação onde ia entrar. Os episódios posteriores apenas me levaram a reforçar a convicção de que, desde o início, se tratou de tentar pôr de pé um projecto político travestido de um projecto profissional.

domingo, 26 de julho de 2009

Visões premonitórias de Marshall McLuhan

1960:
"Hoje, quando o movimento da informação se tornou, de longe, a maior indústria do mundo (...)"

"Hoje, na situação da circulação instantânea da informação, a oferta cria a procura (...)"

"O «interesse humano» testemunha o momento em que o público passou a ser o espectáculo. Nesse momento, foi desencadeada uma revolução política radical, a do nascimento do meio de comunicação de massas. Esse meio de comunicação caracteriza-se por a mensagem não ser dirigida
para o público, mas por entre o público, qualquer que ele seja. O público é simultaneamente o espectáculo e a mensagem."

1966:
"A espantosa dinâmica ou padrão da informação eléctrica consiste em envolver cada vez mais o público como força de trabalho, em vez de lhe lançar coisas para consumir ou como espectáculo."



Através destes exemplos pode ver-se como Marshall McLuhan soube identificar e sublinhar algumas das tendências emergentes mais importantes na comunicação de massa do último meio século. Porém, fosse devido à sua formação de base (humanísticas) ou à falta de tempo útil de vida (n. 1911- f. 1980) McLuhan acabou por não conseguir tirar todas as consequências do papel da economia nas mudanças tecnológicas e nas respectivas implicações sociais.

O envolvimento do público, a interacção crescente nos media electrónicos, tem-se traduzido, sobretudo, numa mais-valia comercial para as empresas que McLuhan tão bem apontou ao referir que o padrão era "envolver cada vez mais o público como força de trabalho". A suposta dimensão emancipatória que poderia consubstanciar a participação do público em ganhos de cidadania ainda não conseguiu sobrepor-se às lógicas do consumo.

sábado, 18 de julho de 2009

Comentadores/Entrevistadores

Perguntas inocentes:

Pedro Marques Lopes - comenta aqui como empresário e entrevista aqui como jornalista?
Pedro Adão e Silva - comenta aqui como militante socialista e entrevista aqui como jornalista?

domingo, 17 de maio de 2009

Contra a comunicação, pela estética

Este livro é a espoleta que me faltava para renegar, em definitivo, a comunicação desintermediada nos mass media e, consequentemente, aquilo que também os jornalistas estão a deixar que se instale como paradigma emergente (o jornalismo do cidadão, o cidadão repórter, o culto do amador) contribuindo, assim, para a descaracterização da profissão e para o seu próprio hara-kiri enquanto profissionais.

O mundo é cada vez mais complexo mas, paradoxalmente, parece que toda a gente tem de saber dominar qualquer tema e ter opinião sobre tudo, mesmo que não tenha sido preparado profissionalmente para isso. A bem dos custos económicos ou seja lá do que for, vai-se menorizando o papel dos mediadores qualificados que ajudam a descodificar, situar e enquadrar os fenómenos contemporâneos tratados nos mass media. E, hoje em dia, quase tudo se resume à glorificação de uma comunicação cada vez menos mediada (jornalismo incluído).

Porém, depois de ler este livro, ninguém consegue ficar imune a um sentimento de desconfiança face aos discursos laudatórios com que é habitualmente adornada a comunicação mediática. "Ao dirigir-se directamente ao público, saltando por cima de qualquer mediação, a comunicação tem uma aparência democrática, mas é uma violação que homologa todas as diferenças" - escreve Mario Perniola, filósofo italiano que ensina na Universidade de Roma e na Universidade de Quioto.

O autor desmonta com brilhantismo os dispositivos, as deformações e as perversões da comunicação de massa que, segundo ele, "substitui a educação e a instrução pelo edutainment, a política e a informação pelo infotainment e a arte e a cultura pelo entertainment". De todas as mistificações da comunicação - sustenta Perniola - "a maior é, indubitavelmente, a de se apresentar sob a bandeira do progressismo democrático enquanto constitui, na realidade, a mais completa configuração do obscurantismo populista".

Seguindo o pensamento de Mario Perniola, a imediatitude comunicativa é fastidiosa e molesta porque decorre da ausência de um verdadeiro interesse. Isto, "se tivermos presente o que significa literalmente a palavra interesse - ou seja, o estar entre, a mediação". Contrariamente à comunicação, a aquisição de conhecimento exige que haja uma pró-actividade, um verdadeiro interesse, uma mediação.

Perante a onda avassaladora da comunicação, tal como preconiza Derrida, só há uma saída que, todavia, não é linear: "a estratégia da filosofia na sua luta contra a imediatitude logocêntrica e comunicativa não pode ser senão oblíqua". Perniola segue-lhe as pisadas mas evita "o desmedido do discurso psicanalítico" propondo uma alternativa aos efeitos da comunicação através de um sentimento estético das coisas: "Vêm assim encontrar-se no âmbito da estética não só as artes como também todas as actividades científicas, profissionais e burocráticas que implicam, por definição, liberdade e autonomia em relação à economia do lucro imediato e da negociação e que se orientam para a formação de um capital cultural e simbólico não redutível ao capital económico".

terça-feira, 5 de maio de 2009

O país dos fala-barato

No início, as televisões e as rádios começaram por ouvir comentadores qualificados (e supostamente sem interesses particulares) quando queriam aprofundar este ou aquele assunto. Depois, passaram a comentadores os políticos fora do activo, a que se seguiram os políticos no activo, umas vezes apresentados como tal, outras nem por isso. Até que a "vox-populi" ganhou estatuto de "opinion-maker" misturando, bastas vezes e sem a adequada moderação, convicções com factos, mentiras com meias-verdades e lançando até injúrias e difamações.

A opinião responsável e fundamentada tem de continuar a ser livre, mas a exibição da ignorância e do disparate, que vai ganhando cada vez mais terreno no espaço público, não pode ser colocada ao mesmo nível. A não ser que o objectivo seja fomentar o país dos fala-barato.

terça-feira, 28 de abril de 2009

A ilusão da informação

Como eu compreendo José António Barreiros!
"Eu já nem me pergunto sobre se será verdade ou mentira o que o jornal relata, se a história está bem ou mal contada. A dúvida é só esta: interessa-me saber isto? É-me útil esta informação? Faz-me falta, para quê? E a ideia a ela subjacente, o conceito de que as empresas comerciais se espiam, tenho-o já adquirido ou é preciso ler a notícia para ficar a sabê-lo?"

Esta dita sociedade da informação tende a promover, antes de mais, a ilusão de que estamos informados e que somos actores participantes nos destinos deste nosso mundo. A profusão de factos e de argumentos atordoa-nos o suficiente para ser cada vez mais dificil discernir o essencial do acessório e contrapôr a dieta necessária a uma obesidade informativa que já tem pouco a ver com o jornalismo.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O futebol na rádio

Ouvindo o relato do Manchester United - F.C. Porto, na TSF e no RCP, relembro o que escrevi aqui. Concedo que os tempos estão difíceis, mas tal situação não deve obrigar a quebras na ética profissional nem a menos respeito pelos ouvintes.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A opinião e a informação

"La opinión es barata y fácil; la información, cara y compleja."
Juan Varela em Soitu.es

quinta-feira, 12 de março de 2009

Rádio Comercial tem 30 anos

Uma marca que perdura à sombra dos louros conquistados na década de 1980. Parabéns ao pai João David Nunes.

terça-feira, 3 de março de 2009

Um Provedor politicamente correcto

Foi a reflexão que me suscitou o parecer de Adelino Gomes, actual Provedor do Ouvinte da RDP, remetendo para uns "Estados Gerais" sobre a Antena 2 a busca de soluções para o alegado desfazamento entre uma significativa percentagem de ouvintes da estação e a direcção daquela rádio pública.

Longe vão os tempos em que o anterior Provedor do Ouvinte da RDP, José Nuno Martins, se pronunciava assertivamente sobre os problemas que detectava no funcionamento das várias estações da rádio pública não se coibindo, quando foi caso disso, de assumir publicamente a ruptura institucional com o Director de Programas da RDP.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Infoinclusões... dos outros

Lembra-se por que contratou a Prisa Pina Moura? De Pedro Santos Guerreiro no negociosBLOGUES.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sobre as "notícias positivas"

Vale a pena ler isto. E reflectir sobre o que leva à defesa do "jornalismo positivo".

O jornalismo e a informação

“Ao contrário do jornalismo, que tem normas e é debatido, os programas de entretenimento passam também muita informação, mas sem regras”.
Joaquim Furtado in "Tempo Livre" - Revista da Fundação Inatel (Edição de Fevereiro de 2009)

Na rádio e na televisão, a informação jornalística é um bem cada vez mais escasso. Como se escrevia, há dois anos, neste post: "Aos jornalistas dos audiovisuais, nomeadamente, coloca-se de uma forma cada vez mais nítida a questão se o que fazem ainda é informação ou simplesmente entretenimento."

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Tal como há 35 anos!...

A utilização do humor, do nonsense e do absurdo é, por vezes, a única escapatória possível para se conseguir promover uma arejada intervenção em sociedades monolíticas ou mediaticamente bloqueadas. A emissão de rádio que se pode ouvir aqui, chamava-se "Rádio Nova, Rádio Nossa" e era um programa de um grupo de jovens, em Luanda, com difusão facultada pela Emissora Oficial de Angola.

A emissão, difundida em 11 de Fevereiro de 1974, foi realizada com base no livro "O desastronauta", de Flávio Moreira da Costa, publicado originalmente em 1971. Então como agora, o tango "Cambalache", utilizado como epílogo musical do progama, retrata os sinais de um tempo confuso, sem referências criteriosas, e em que se fica muito a dever a uma esclarecida dignificação de valores:

Que siempre ha habido chorros,
maquiavelos y estafaos,
contentos y amargaos,
valores y dublés...
.................................................
Hoy resulta que es lo mismo ser derecho que traidor..!
Ignorante, sabio, chorro, generoso o estafador!
Todo es igual! Nada es mejor!
Lo mismo un burro que un gran profesor!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Rádio e jornalismo

A rádio é uma linguagem como outra qualquer: necessita ser aprendida. E tem vocabulário, sintaxe e gramática próprias. “Arranhar” um idioma, “desenrascar-se”, acertar numas coisas e fazer a seguir uma série de disparates não é, necessariamente, dominar uma língua. Por isso não é crível que qualquer pessoa possa chegar a um microfone e passe a usá-lo como se estivesse a falar num intercomunicador, actividade para a qual não são necessários requisitos específicos. Se juntarmos as regras do jornalismo à especificidade da linguagem radiofónica aumenta a fasquia para quem pretenda desempenhar a preceito a actividade no jornalismo radiofónico.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A opinião da "vox pop." na rádio de palavra

Quando se discute tudo por todos (sejam eles muito, pouco ou nada qualificados), sem regras nem condições, acaba por não se debater realmente nada de substantivo. É entretenimento puro para tentar captar audiências. Do ponto de vista do espaço público o enriquecimento é nulo. Pelo contrário, cria-se ruído que serve apenas para atordoar os espíritos e mascarar os dados relevantes da realidade.

O que vale a opinião da "vox pop."? Normalmente nada, servindo apenas para preencher, de borla, o espaço dos média. Não faz doutrina quem quer, mas quem pode.

Será que a comunicação social deve promover a divulgação de todas as opiniões (incluindo palpites) ou apenas das opiniões relevantes, aquelas que são expressas por pessoas com algum tipo de qualificação e que têm a possibilidade de vir a fazer doutrina? A resposta parece-me óbvia. Os média têm de escolher: ou querem ser simplesmente alti-falantes da “vox populi” ou, em contrapartida, serem reconhecidos pelos critérios de selecção, escolha e edição das opiniões.