quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O que vale a participação do público na rádio e na TV?

Uma notícia e um artigo recentes, aqui e aqui, proporcionaram-me novos elementos de reflexão para aplicar à pergunta que dá título a este post e que, no fundo, retoma a ideia-chave da linha de investigação que venho desenvolvendo desde 2005, tendo em vista o conhecimento daquilo que está subjacente aos processos interactivos na rádio.

Alguns dos desafios levantados pela interacção que ocorre no espaço público mediático foram bem problematizados pelo jornalista e professor brasileiro Muniz Sodré: «Conversa-se na televisão, entrevistam-se personalidades ad nauseam, realizam-se audiências públicas nas várias instâncias do Legislativo, mas o resultado constante é a inanição dos discursos. Em outras palavras, o excesso de publicidade das expressões individuais não define aquele espaço em que se constitui politicamente a cidadania na sociedade ocidentalizada, isto é, o espaço público».

Ora, se o excesso de publicidade das expressões individuais já não chega para definir o espaço público, como poderemos vir a enquadrá-lo? Antes de mais, há que sublinhar que esta banalização e vulgarização dos discursos corresponde ao fim de um período em que coincidiam o espaço público e o espaço político. Por outro lado, na dita Sociedade da Informação, é o próprio conceito de cidadania que está também ele em mutação, alargando-se a outras vertentes para além do estritamente político.

Seguindo o pensamento de Muniz Sodré: "Na Era da Informação, as pessoas estariam mais voltadas para uma orientação relativa ao consumo ou ao entretenimento do que para a factualidade de natureza político-social tradicionalmente implicada nas notícias e nos debates relativos à condução política da sociedade." Sendo assim, parece certo que vamos ter de contar com o consumo e com o entretenimento para ajudar a definir o espaço público, conforme já desenvolvi aqui.

Todavia, a emergência de produtos mediáticos híbridos, nos quais a cidadania deixou de ser apenas sócio-política e passou a ter igualmente uma dimensão cultural e económica vinculada ao consumo, coloca novas questões. Já não basta saber o que vale a participação do público na rádio e na TV (a tal publicidade das expressões individuais no espaço público), mas também quanto vale essa mesma participação.

No Reino Unido, no ano passado, vieram a público vários escândalos envolvendo operadores televisivos que solicitavam a participação do público nos programas através da utilização menos ética de chamadas telefónicas de valor acrescentado. Agora, com o intuito de travar a desregulação daquilo a que poderemos chamar de "mercado do espaço público", o organismo regulador dos média ingleses (Ofcom), pretende instituir regras mais apertadas para os operadores. Segundo disse um responsável do Ofcom, "os telespectadores devem estar confiantes de que serão tratados de forma justa e consistente quando interagem com os programas televisivos”.

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