quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Rádio Clube – uma rádio de influência?

A auto-promoção garante que sim, reiterando aquilo que Luís Osório tem defendido desde que chegou ao RCP faz agora dois anos, precisamente no dia 1 de Novembro de 2005. Ganhar influência mediática foi, desde o início, um dos objectivos assumidos publicamente pelo director da estação e o conceito acabou mesmo por ter tradução em nomes de programas e rubricas. Ele é a “Rede de influência”, ele é o “Clube económico – jornal de influência” ou ainda a “Influência directa” (este programa, entretanto, já descontinuado no meio da voragem errática que tem atingido profissionais e programas desde o arranque do novo formato do RCP ocorrido em 29 de Janeiro de 2007).

As mudanças começaram logo ao segundo dia com a substituição da primeira apresentadora do programa “Posto de Escuta” que tinha sido escolhida “após um rigoroso e exigente casting”. Depois, ao longo dos meses, sucederam-se as alterações: fechou a “Loja do chinês”, inicialmente apresentado como um grande programa de humor; eclipsou-se o “Tudo é possível” apesar da garantia de ser este o programa mais popular de toda a grelha do Rádio Clube; a grande aposta para as tardes de 2ª a 6ª feira na “Janela aberta”, Célia Bernardo, foi remetida para as manhãs do fim-de-semana; Luís Filipe Borges, o badalado humorista-entrevistador desapareceu do éter depois do Verão; a “Torre de Babel”, do multifacetado opinion maker Nuno Rogeiro, deve ter-se desmoronado porque deixou de se ouvir falar dela; para além do meteórico aparecimento, numa semana, de um programa de astrologia africana que, na semana seguinte, passou para a Romântica FM.

Cito estes exemplos de memória, mas muitos outros ajustamentos de pessoas e horários foram sendo feitos ao longo deste ano, sempre justificados como reforços da grelha que, nalguns casos, não duraram mais do que poucas semanas (escaparam dignamente às instáveis opções hertzianas de Luís Osório o “Minuto a Minuto” de João Adelino Faria e o “Escolhidos a dedo” da dupla Aurélio Gomes/Teresa Gonçalves). Porém, aparentemente, toda esta agitação nem sequer teria razões para ocorrer uma vez que foi feita uma longa preparação logística e de formação de pessoal antes do arranque do novo formato do RCP. O switch-on do projecto esteve inicialmente apontado para Setembro de 2006 mas acabou por ser adiado para Janeiro de 2007, mês durante o qual decorreu uma limpeza de antena, com os serviços reduzidos ao mínimo, a fim de ajudar o auditório na caracterização do novo formato.

Vem tudo isto a propósito daquilo que reputo como a primeira condição para se conseguir influência – a credibilidade. Por mais esforçado que seja o marketing, os factos que evidenciam dificuldades em manter uma coerência na grelha, a imaturidade revelada por algumas das escolhas, aparentemente definidas menos por critérios profissionais e mais por amiguismo ou compadrio dentro de um quadro que na blogosfera chegou a ser ironicamente apresentado como tratando-se de um grupo organizado, e o esquecimento de que não se consegue influenciar sem compreender o meio (Hannah Arendt dizia, de resto, que interessava-lhe muito mais compreender do que influenciar) podem fazer desmoronar as ambições de qualquer projecto.

Para além disso, a verdadeira credibilidade é aquela que é reconhecida, e não a que nos pretendem impor. Não é por conceder espaços de antena a esmo a protagonistas e a opinion makers, ou por se fazerem mais ou menos “fretes”, que se conquista um reconhecimento sustentado. A prazo, toda essa construção esboroa-se, ao ser detectada pela opinião pública, e as concessões acabam por não dar os frutos desejados.

Nos primeiros tempos da TSF (e honra seja feita ao Emídio Rangel da altura pelo espírito que incutiu na sua equipa) os “barões” da rádio de então (João David Nunes na Comercial, Magalhães Crespo na Renascença) minimizaram os efeitos da concorrência dos “miúdos da TSF” até que tiveram que acabar por dar crédito à nova estação. E isto, porque havia uma linha de rumo definida e um know-how competente que fez com que fossem os protagonistas a quererem aparecer na antena de uma TSF que se impôs como credível.

Chegados a este ponto passamos à segunda condição para se conseguir ganhar influência – a notoriedade. Utilizando o registo de audiências feito pelo Bareme Rádio da Marktest podemos verificar que o RCP passou de mais de 3% de A.A.V. , antes da chegada de Luís Osório, para os actuais 1% de A.A.V. (3º trimestre de 2007). Já se sabe que as audiências do Bareme Rádio valem o que valem e as suas debilidades estão identificadas. Porém, se os dados actuais não servirem para mais nada servem, pelo menos, para determinar uma tendência. E essa é, manifestamente, desoladora para o RCP desde há dois anos a esta parte:

2º trimestre de 2005 – 3,6% A.A.V.
3º trimestre de 2005 – 3,2% A.A.V.
4º trimestre de 2005 – 3,1% A.A.V.
1º trimestre de 2006 – 3,2% A.A.V.
2º trimestre de 2006 – 2,3% A.A.V.
3º trimestre de 2006 – 2,4% A.A.V.
4º trimestre de 2006 – 2,4% A.A.V.
1º trimestre de 2007 – 2,2% A.A.V.
2º trimestre de 2007 – 1,4% A.A.V.
3º trimestre de 2007 – 1,0% A.A.V.

Analisando apenas o período que contempla a mudança radical de formato para uma rádio de palavra (a partir de Janeiro de 2007) o declínio do grau de notoriedade revelado pelas audiências é ainda mais acentuado. Porém, segundo os responsáveis do RCP e também no entender de alguns comentadores que comungam da mesma opinião, a explicação está no facto de terem migrado para outras estações quase todos os ouvintes que preferiam o formato anterior, enquanto que os novos ouvintes favoráveis ao actual formato estão ainda a ser conquistados.

Seja como for, com a actual cifra de 1% de A.A.V. (traduzida em cerca de 83 mil ouvintes de um universo potencial de 8 milhões e 300 mil), somada à falta de estabilidade de uma grelha que sustente a credibilidade do projecto, é difícil conceder que o RCP possa ser considerado, desde já, uma rádio de influência. Até porque quem tem uma efectiva influência não precisa andar a alardear aos quatro ventos que a tem ou que a quer ter. Pura e simplesmente são os outros que lhe reconhecem, ou não reconhecem, tal prestígio.

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