quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Infoinclusões... dos outros

Entrevista: Gonçalo M. Tavares. Os políticos percebem pouco dos homens. De Isabel Ramos na revista Correio Domingo do Correio da Manhã de 25/11:

"- Os políticos que pertencem aos partidos são cada vez mais pessoas que percebem menos dos homens. É trágico. A política transformou-se numa aprendizagem do discurso, de argumentar e refutar a argumentação do outro. Transformou-se numa arte da palavra, da gestão da palavra e não das coisas, muito menos dos homens. Os políticos deviam ler mais e viver mais para perceber os homens. Não têm experiências, têm discursos.
- Mentir faz parte dessa arte?
- A arte do discurso político é a arte de dizer as coisas sem mentir explicitamente. É quase sempre a arte de não mentir dizendo as coisas da forma mais conveniente. Transformou-se numa segunda linguagem. Hoje, mais do que saber disparar uma arma, um cidadão precisa, para defender-se, de perceber alguma coisa de linguagem. Os truques.
- Como assim?
- Um título recente no jornal dizia: ‘deficientes vão deixar de poder acumular dois subsídios.’ Era a frase de um político. Quem a lê, à primeira, se não souber de onde vem, quem a diz e qual é a intenção, associa “acumular” a alguém ganancioso, usurpador daquilo a que não tem direito. Já “subsídio” remete para não fazer nada e receber algo. Afinal, o que estava em causa eram deficientes que recebiam 20 euros de um subsídio, 15 de outro e cortaram-lhes um. É a isto que me refiro quando digo que as frases formam uma camada de engano.
- Ou seja, enganam sem mentir?
- Aquela frase não era mentira. Eliminava-se a acumulação de subsídios, mas quem lê pensa que se está a tirar de um grande privilegiado uma benesse quando se estava a tirar a uma pessoa deficiente 15 euros em 35. É repugnante.
- Como combater a mistificação?
- Um país sensato devia proporcionar aos cidadãos aulas de linguística para perceberem as questões da linguagem, o subliminar, o subtexto...
- Mas isso não interessa ao poder.
- Não, claro que não."

domingo, 25 de novembro de 2007

Jornalista multimédia, "ma non troppo"

Começa a gerar algum consenso a ideia de que o exercício da actividade jornalística, em simultâneo, para diferentes plataformas (on-line, imprensa, rádio, televisão) não é viável nem desejável em todas as circunstâncias, conforme tinha sido suscitado aqui. Os limites do jornalismo multimédia foram aqui reconhecidos por alguém que tem o saber de experiência feito

Também do lado dos editores há já quem ponha em causa o conceito das redacções completamente integradas. Bruno Patino, Vice Presidente do grupo Le Monde e Presidente do Le Monde interactif, afirmou numa entrevista ao Editors Weblog que, dentro de dois anos, a questão (integração ou não-integração) será considerada obsoleta porque uma nova organização de trabalho está a emergir. Assim, num novo modelo de redacção alguns trabalhos serão adaptados apenas para uma plataforma, outros para uma multiplicidade delas, enquanto alguns serão completamente "agnósticos" em termos de plataforma. Evocando o processo de convergência nas redacções, Bruno Patino sustenta que a principal questão não deveria ser a integração, mas sim saber como oferecer um melhor produto editorial numa variedade de plataformas.

domingo, 18 de novembro de 2007

"Debate Público" no RCP - interacção para a informação ou para o entretenimento?

O programa interactivo "Debate Público", no RCP (2ª a 6ª das 12h00 às 13h30), deu mais um passo para a descredibilização, dirão uns, ou para a assunção, dirão outros (entre os quais me incluo), de que este tipo de emissões dificilmente pode ser compaginado com regras jornalísticas estritas. Nos audiovisuais portugueses esta é a primeira vez que um programa que procura a expressão de pontos de vista privados sobre assuntos públicos (the expressive phone-in na terminologia de Andrew Crisell) é conduzido, não por jornalistas (Teresa Gonçalves tem número de Carteira Profissional mas há muito que deixou de exercer funções jornalísticas), mas por animadores/locutores, apesar de a interacção suscitada no programa não ter a ver com meras intervenções exibicionistas ou confessionais para as quais o animador/locutor estará profissionalmente mais vocacionado.

Ademais, acontece que Aurélio Gomes e Teresa Gonçalves (cujo profissionalismo não está, obviamente, em causa) são exactamente os mesmos profissionais que, das 16h00 às 17h00, apresentam a chamada "Hora Rosa-Chique", com temas das chamadas revistas cor-de-rosa, ambos os programas englobados num mesmo espaço radiofónico - "Escolhidos a dedo" - cujo lema é todo ele uma filosofia: "informação, entretenimento e vida social". E nesta amálgama está tudo dito: no que aos audiovisuais diz respeito, os assuntos públicos, as questões de cidadania, dificilmente escapam a um tratamento fora do âmbito do entretenimento e do consumo.

Ao apropriarem-se dos assuntos públicos, a rádio e a televisão (e as emissoras privadas por maioria de razão), tendem a fazer espectáculo com tais questões por forma a rendibilizar o investimento feito. E, mesmo nas emissoras públicas, há quem duvide de que, nos programas interactivos, seja possível manter o "rigor informativo" e sustente que tais programas "apesar de tratados pela informação e por jornalistas constituem espaços fortemente especulativos".

Assim sendo, pode dizer-se que, no espaço público da rádio, a interacção para a cidadania é cada vez menos dicotómica com a interacção para o consumo, como se concluiu aqui, pelo que, nos audiovisuais em geral, a interacção para a informação e para o entretenimento serão duas faces de uma mesma moeda e estarão, cada vez mais, de mão dada.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Infoinclusão para jornalistas

A literacia digital é, cada vez mais, uma componente indispensável na actividade jornalística. A adaptação às necessidades decorrentes da digitalização do sector levou à elaboração de oito perfis de formação para a era digital. A ver aqui.

SIC Online no centro das redacções da SIC

É mais um passo, para a convergência entre as diversas plataformas mediáticas, dado através da Internet. A SIC Online passa a ser o centro de difusão de material noticioso para o universo SIC. Aqui.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A rádio também já se vê

É mais um contributo dado pela Internet para a convergência dos diversos meios. A reportagem radiofónica, para além de ser ouvida na rádio, pode ser vista em vídeo. A Rádio Renascença acompanha o sinal dos tempos e já está a disponibilizar, de uma forma sistemática, alguns trabalhos jornalísticos para serem vistos no seu site. Aqui a reportagem é de Ana Cabrita, com imagem e edição de Teresa Abecassis, a propósito do lançamento, hoje, do livro "Os meus 35 anos com Salazar".

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Infoinclusões...dos outros

O novo aeroporto de Lisboa e os novos aprendizes da contra-informação. De José Manuel Fernandes no Público de 12/11 (só para assinantes): "O ministro Mário Lino colocou uma empresa que depende dele a fazer o trabalho que cabia ao LNEC. Queria descredibilizar o estudo da CIP. (...) aquilo a que assistimos, e que nos foi apresentado sem pudor, representa um esforço de condicionamento da opinião pública por parte da Rave que, ao contrário da CIP, não actuou de forma transparente nem forneceu ao nosso colaborador os estudos que diz ter realizado. Tratou sim de gerar uma sucessão de notícias, difíceis de escrutinar, cirurgicamente dirigidas, numa acção que os políticos costumam definir por spin, eufemismo de manipulação."

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Hoje a rádio é...pau para toda a obra

O comentário acutilante de João Severino, que não consegue esconder a sua enorme paixão pela rádio. Aqui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A importância da literacia da informação

"Os jornalistas descobrem normalmente o que os interessados lhes filtram." Aqui. Como se diz na epígrafe deste blogue "(...) ser capaz de ler não define a literacia no complexo mundo de hoje."

O fim de um mito?

"O consumo de rádio no carro não é tão dominante como as pessoas o percepcionam". Aqui.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Infoinclusões...dos outros

"Poderia ser" jornalismo. De Manuel António Pina no Jornal de Notícias. A senioridade no seu melhor.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Rádio Clube – uma rádio de influência?

A auto-promoção garante que sim, reiterando aquilo que Luís Osório tem defendido desde que chegou ao RCP faz agora dois anos, precisamente no dia 1 de Novembro de 2005. Ganhar influência mediática foi, desde o início, um dos objectivos assumidos publicamente pelo director da estação e o conceito acabou mesmo por ter tradução em nomes de programas e rubricas. Ele é a “Rede de influência”, ele é o “Clube económico – jornal de influência” ou ainda a “Influência directa” (este programa, entretanto, já descontinuado no meio da voragem errática que tem atingido profissionais e programas desde o arranque do novo formato do RCP ocorrido em 29 de Janeiro de 2007).

As mudanças começaram logo ao segundo dia com a substituição da primeira apresentadora do programa “Posto de Escuta” que tinha sido escolhida “após um rigoroso e exigente casting”. Depois, ao longo dos meses, sucederam-se as alterações: fechou a “Loja do chinês”, inicialmente apresentado como um grande programa de humor; eclipsou-se o “Tudo é possível” apesar da garantia de ser este o programa mais popular de toda a grelha do Rádio Clube; a grande aposta para as tardes de 2ª a 6ª feira na “Janela aberta”, Célia Bernardo, foi remetida para as manhãs do fim-de-semana; Luís Filipe Borges, o badalado humorista-entrevistador desapareceu do éter depois do Verão; a “Torre de Babel”, do multifacetado opinion maker Nuno Rogeiro, deve ter-se desmoronado porque deixou de se ouvir falar dela; para além do meteórico aparecimento, numa semana, de um programa de astrologia africana que, na semana seguinte, passou para a Romântica FM.

Cito estes exemplos de memória, mas muitos outros ajustamentos de pessoas e horários foram sendo feitos ao longo deste ano, sempre justificados como reforços da grelha que, nalguns casos, não duraram mais do que poucas semanas (escaparam dignamente às instáveis opções hertzianas de Luís Osório o “Minuto a Minuto” de João Adelino Faria e o “Escolhidos a dedo” da dupla Aurélio Gomes/Teresa Gonçalves). Porém, aparentemente, toda esta agitação nem sequer teria razões para ocorrer uma vez que foi feita uma longa preparação logística e de formação de pessoal antes do arranque do novo formato do RCP. O switch-on do projecto esteve inicialmente apontado para Setembro de 2006 mas acabou por ser adiado para Janeiro de 2007, mês durante o qual decorreu uma limpeza de antena, com os serviços reduzidos ao mínimo, a fim de ajudar o auditório na caracterização do novo formato.

Vem tudo isto a propósito daquilo que reputo como a primeira condição para se conseguir influência – a credibilidade. Por mais esforçado que seja o marketing, os factos que evidenciam dificuldades em manter uma coerência na grelha, a imaturidade revelada por algumas das escolhas, aparentemente definidas menos por critérios profissionais e mais por amiguismo ou compadrio dentro de um quadro que na blogosfera chegou a ser ironicamente apresentado como tratando-se de um grupo organizado, e o esquecimento de que não se consegue influenciar sem compreender o meio (Hannah Arendt dizia, de resto, que interessava-lhe muito mais compreender do que influenciar) podem fazer desmoronar as ambições de qualquer projecto.

Para além disso, a verdadeira credibilidade é aquela que é reconhecida, e não a que nos pretendem impor. Não é por conceder espaços de antena a esmo a protagonistas e a opinion makers, ou por se fazerem mais ou menos “fretes”, que se conquista um reconhecimento sustentado. A prazo, toda essa construção esboroa-se, ao ser detectada pela opinião pública, e as concessões acabam por não dar os frutos desejados.

Nos primeiros tempos da TSF (e honra seja feita ao Emídio Rangel da altura pelo espírito que incutiu na sua equipa) os “barões” da rádio de então (João David Nunes na Comercial, Magalhães Crespo na Renascença) minimizaram os efeitos da concorrência dos “miúdos da TSF” até que tiveram que acabar por dar crédito à nova estação. E isto, porque havia uma linha de rumo definida e um know-how competente que fez com que fossem os protagonistas a quererem aparecer na antena de uma TSF que se impôs como credível.

Chegados a este ponto passamos à segunda condição para se conseguir ganhar influência – a notoriedade. Utilizando o registo de audiências feito pelo Bareme Rádio da Marktest podemos verificar que o RCP passou de mais de 3% de A.A.V. , antes da chegada de Luís Osório, para os actuais 1% de A.A.V. (3º trimestre de 2007). Já se sabe que as audiências do Bareme Rádio valem o que valem e as suas debilidades estão identificadas. Porém, se os dados actuais não servirem para mais nada servem, pelo menos, para determinar uma tendência. E essa é, manifestamente, desoladora para o RCP desde há dois anos a esta parte:

2º trimestre de 2005 – 3,6% A.A.V.
3º trimestre de 2005 – 3,2% A.A.V.
4º trimestre de 2005 – 3,1% A.A.V.
1º trimestre de 2006 – 3,2% A.A.V.
2º trimestre de 2006 – 2,3% A.A.V.
3º trimestre de 2006 – 2,4% A.A.V.
4º trimestre de 2006 – 2,4% A.A.V.
1º trimestre de 2007 – 2,2% A.A.V.
2º trimestre de 2007 – 1,4% A.A.V.
3º trimestre de 2007 – 1,0% A.A.V.

Analisando apenas o período que contempla a mudança radical de formato para uma rádio de palavra (a partir de Janeiro de 2007) o declínio do grau de notoriedade revelado pelas audiências é ainda mais acentuado. Porém, segundo os responsáveis do RCP e também no entender de alguns comentadores que comungam da mesma opinião, a explicação está no facto de terem migrado para outras estações quase todos os ouvintes que preferiam o formato anterior, enquanto que os novos ouvintes favoráveis ao actual formato estão ainda a ser conquistados.

Seja como for, com a actual cifra de 1% de A.A.V. (traduzida em cerca de 83 mil ouvintes de um universo potencial de 8 milhões e 300 mil), somada à falta de estabilidade de uma grelha que sustente a credibilidade do projecto, é difícil conceder que o RCP possa ser considerado, desde já, uma rádio de influência. Até porque quem tem uma efectiva influência não precisa andar a alardear aos quatro ventos que a tem ou que a quer ter. Pura e simplesmente são os outros que lhe reconhecem, ou não reconhecem, tal prestígio.