sexta-feira, 7 de março de 2008

Liberdade de recepção

O conceito original de liberdade de recepção foi desenvolvido por Philippe Breton (A manipulação da palavra, Edições Loyola, São Paulo, 1999) a partir da ideia de que a liberdade relativa à palavra é, com demasiada frequência, identificada tão somente com a liberdade de expressão.

Ora, as nossas instituições democráticas - diz Breton - protegem de modo rigoroso a primeira, mas interessam-se pouco pela segunda. "A possibilidade de manipulação da palavra vincula-se justamente a esse desequilíbrio. (...) Essa extensão da liberdade de palavra não apenas à liberdade de expressão, mas também à liberdade de mediação e, sobretudo, à liberdade de recepção corresponderia a uma etapa superior da democracia".

Tudo isto tem a ver com o âmbito deste blogue na medida em que, "um enunciado dado, entre determinados parceiros de uma interação, será manipulatório porque o público, por exemplo, não estará apto a decodificá-lo como tal". Por outro lado, nas comunicações exercidas através dos media ampliam-se as dificuldades: "uma mesma mensagem pode revelar-se manipulatória para uma parte do público e não manipulatória para outra, que já desarmou suas armadilhas" .

Segundo Philippe Breton, a manipulação da palavra tornou-se hoje comum nas sociedades modernas. "A democracia, que pôs a palavra no centro da vida pública, parece ameaçada pela proliferação das técnicas que visam nos obrigar, sem que nos apercebamos, a adotar determinado comportamento ou determinada opinião". Desta forma, só é completamente livre quem estiver em condições de dizer, autonomamente, sim ou não à recepção.

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