sexta-feira, 21 de março de 2008

Imagem, som, audiências passivas e audiências activas

A ligação entre a linguagem televisiva e a linguagem radiofónica tem tradução no uso de técnicas comuns como a montagem, mas, do ponto de vista da recepção, há uma vantagem acrescida para a rádio: o som da palavra, da música, ou dos efeitos sonoros, consegue criar imagens na mente, mas o inverso é pouco verosímel visto que as imagens, só por si, não suscitam o som. Ora é essa dimensão globalizante inerente à envolvência sonora, consubstanciada através da criação das tais “pictures in the mind”, que torna mais intenso o diálogo com o ouvinte do que com o espectador.

Contrariamente ao vídeo, em que a imagem, supostamente ao mostrar tudo, remete as audiências para uma atitude passiva, na rádio os ouvintes sentem necessidade de ser activos porque há sempre algo a descodificar na textura sonora apresentada. Nesse sentido,a rádio insere-se mais intensamente no conceito de "obra aberta", de Umberto Eco, segundo o qual “toda a recepção é uma interpretação e, ao mesmo tempo, uma realização”.

Ao proporcionar um maior grau de liberdade na recepção por parte do ouvinte, o som da rádio, não sendo tão intrusivo como a imagem vídeo, abre-se a um diálogo, mesmo que seja em silêncio, e o contacto estabelece-se. Por isso se pode dizer que mesmo ainda antes de terem aparecido os programas de "call-in", os debates, os fóruns ou os passatempos radiofónicos, as audiências da rádio já eram activas visto que sempre tiveram necessidade de recorrer ao imaginário para atingir a plenitude da recepção sonora.

3 comentários:

Anónimo disse...

É irónico pensar que a falta da dimensão visual da rádio, no sentido directo e explícito será talvez o que lhe garante a sobrevivência, mais do que ultrapassada pelo desafio de completar o que não é dito. No mundo do espectáculo total, optar pela rádio e outras formas "amputadas" da explicitação total do conteúdo, será filosoficamente, uma opção entre um fast food e uma refeição gourmet, não?

Vítor Soares disse...

Como dizia um amigo meu, o implícito é erótico, o explícito é pornográfico...

Anónimo disse...

O imaginário permite mesmo um mundo de possibilidades...