sábado, 31 de março de 2007

As mentiras da democracia

Num assomo de inusitada sinceridade, o antigo ministro Mira Amaral disse ao semanário "Sol" que, nos dias de hoje, mentir "é uma obrigação da democracia". O actual gestor e ex-ministro não deve estar à espera que alguém acredite nele se um dia decidir voltar à vida política.

sexta-feira, 30 de março de 2007

O fim da ditadura dos "media" tradicionais

"Quem não aparece na imprensa, na rádio e, sobretudo, na televisão não existe". A frase, recorrente desde há um par de anos, começa a fazer cada vez menos sentido devido ao alargamento das redes sociais proporcionadas pela Internet. E o mais certo é chegarmos a uma altura em que se poderá dizer que só existe quem estiver na Internet. Os infoexcluídos mais segregados serão aqueles que não aparecem na rede, que não são capazes de utilizar esta plataforma. Com isto não quero dizer que os media tradicionais desapareçam. Admito, porém, que o seu canal de difusão principal será, porventura, o telefone móvel ligado à Internet e não o papel, as ondas hertzianas ou o fio do cabo. Aqueles que se adaptarem mais depressa à convergência de plataformas como neste exemplo ou neste ou ainda neste ganharão a corrida do reconhecimento público, da notoriedade e da influência. Aliàs, esta última passa cada vez menos pelo tradicional condicionamento através dos conteúdos e mais pela criatividade no conteúdo da forma (já McLuhan dizia que o meio era a mensagem!). Para não se perder o comboio digital é preciso estar atento aos sinais de mudança porque as plataformas de comunicação e partilha abertas com a Internet (e-mail, chat, you tube, my space, hi5) aceleraram as transformações no domínio da interacção. Por isso, conceitos como cidadania, consumo e produção, aplicados aos media, não podem mais ser vistos como até agora.

O futuro dos "media" sem mediadores? (II)

No futuro, grande parte dos mediadores actuais deverá vir a integrar a amálgama de cidadãos/produtores/consumidores, que alimentarão o mainstream mediático. Só se manterão como mediadores os profissionais de excelência, que servirão os nichos de mercado, as élites. Porém, enquanto os participantes de fóruns, os produtores de blogues e podcasts não forem absorvidos pela indústria do mainstream mediático, os precursores da utilização das redes sociais têm oportunidade para medir forças com os media tradicionais. Até porque, para exercer influência, desde que se tenha uma rede de difusão, o que conta é o prestígio e não a desproporção dos meios. As redes sociais da Internet evitam a relação assimétrica dos media tradicionais. No meu blogue, no meu podcast, edito o que quero, como quero, sem constrangimentos de espaço ou de tempo, nem de qualquer relação de dependência face ao medium. Eu defino as regras e a forma como quero aparecer e os media tradicionais ainda não se aperceberam que vão perder o exclusivo do palco, que vão ter de reparti-lo com as redes sociais. E, das duas uma, ou se profissionalizam am altíssimo grau trabalhando para nichos de mercado, ou então, não conseguem fazer melhor que os cidadãos/produtores/consumidores de media e deixam de fazer sentido. À medida que as redes sociais de cidadãos/produtores/consumidores se vão impondo aos media estes deixam de ter autonomia para influenciar em exclusivo e vão perdendo importância social.

TSF, 1- Fernando Correia, 0

Em Janeiro passado, a TSF despediu Fernando Correia invocando incompatibilidade entre o seu trabalho na estação de rádio e a direcção do jornal "Diário Desportivo" que o radialista iria assumir. Três meses depois é o próprio Fernando Correia que aqui reconhece a incompatibilidade entre a direcção do jornal e o trabalho no Rádio Clube Português, estação para onde, entretanto, se transferira.

A credibilidade dos comentadores

A maior ou menor credibilidade dos comentadores constrói-se também pela capacidade de distanciamento que, em determinados momentos-chave (atenção, não disse momentos Chavez!), conseguem assumir face a alguém da área política em que se inserem. Esta semana, na Quadratura do Círculo da Sic-Notícias, Pacheco Pereira revelou mais uma vez a sua heterodoxia ao criticar Cavaco Silva por excluir Mário Soares da homenagem aos protagonistas da integração europeia de Portugal. Alguém imagina Jorge Coelho ou António Vitorino a serem capazes de assumir posições semelhantes face a um peso-pesado da sua área política? Eu não.

RFM tem, finalmente, uma concorrente à altura?

Segundo o jornal M&P arranca hoje a M80, a nova rádio da Media Capital. Para já com um alcance geográfico limitado. Porém, o produto evidencia potencialidades para se impôr no mercado e expandir progressivamente a sua rede.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Abel Mateus na mira do DE

Invocando razões de mercado, esta manchete do DE dá, objectivamente, uma ajuda no desgaste da imagem do presidente da Autoridade da Concorrência (AdC) por quem o Governo, já se percebeu, não morre de amores.

terça-feira, 27 de março de 2007

Ainda há bons padrinhos...

É o que pensa António Mega Ferreira aqui. O pior é para aqueles que não são afilhados...

Uma notícia exemplar sem “ciganos”

Ouvem-se rádios, vêem-se televisões e lêem-se jornais e, na esmagadora maioria das notícias referentes ao desalojamento de famílias no bairro do Bacelo no Porto, como acontece aqui, aqui, aqui ou aqui, lá vem a menção à etnia cigana dos moradores, sem se perceber a necessidade de tal referência para o devido enquadramento da notícia. Todos aqueles que se insurgem, muito justamente, com o facto de nas notícias que envolvem ciganos como alegados agressores não dever ser feita qualquer referência à etnia esqueceram agora tais princípios quando os ciganos são apresentados como alegadas vítimas pelas organizações que enquadram politicamente o protesto contra o desalojamento. A reprodução acrítica desta perspectiva é um mau serviço prestado ao jornalismo que aparece condicionado pela terminologia e pela orquestração proposta pelas fontes. Neste caso, está de parabéns o DN que aqui refere os desalojados apenas como moradores sem menção à etnia o que, para o caso, não tem qualquer relevância.

segunda-feira, 19 de março de 2007

RCP corrigiu o tiro

O alvo é a eleição do português mais importante da história da televisão e da rádio. O concurso foi apresentado no programa "Minuto a Minuto", de João Adelino Faria, a 7 de Março. Na altura, chamou-se aqui a atenção para o facto de um programa de informação estar a dar cobertura à realização de um concurso através de televotos. De então para cá, a iniciativa foi reposicionada. A prometida emissão especial do "Minuto a Minuto", anunciada para dia 20 de Março no link "O Português mais importante" e onde deveria ser divulgada a classificação, foi transferida para o programa da tarde "Janela Aberta", uma emissão mais facilmente enquadrável no conceito de infotainment, tanto mais que é conduzida por uma jornalista em parceria com um entertainer.

ACTUALIZAÇÃO A 22 de Março - O conteúdo do link "O Português mais importante" acima referido foi, entretanto, substituído por um outro texto que dá conta dos resultados do concurso. Para que se entenda o sentido do post anterior reproduz-se aqui o texto para o qual remetia o prévio link:
"Os ouvintes do Rádio Clube vão escolher quem é o português mais importante da história da televisão e da rádio. No Minuto a Minuto, João Adelino Faria já divulgou os nomeados. Agora, até ao próximo dia 19, são os ouvintes do Rádio Clube que vão escolher o melhor entre os melhores. Depois, no dia 20, numa emissão especial do 'Minuto a Minuto', João Adelino Faria vai moderar um grande debate entre figuras da televisão e da rádio e, obviamente, anunciar a classificação."

domingo, 18 de março de 2007

O futuro dos "media" sem mediadores?

A crescente interactividade proporcionada pelos media origina que os consumidores estão a tornar-se cada vez mais os produtores daquilo que consomem, num registo de circularidade que marca a era digital. Neste sentido, o circuito tende a fechar-se directamente entre produtores e consumidores, sem haver lugar a mediadores. Esta ligação directa entre produtores e consumidores terá outra consequência: mais tarde ou mais cedo a situação implicará o desvio das compensações atribuídas até agora aos mediadores para retribuir a componente produtiva dos consumidores. Estes, por enquanto, ainda se satisfazem com a abertura do palco que lhes é proporcionada consumando o egocasting e até admitem pagar para participar nos media, como pode ser visto neste resumo de um trabalho académico. Porém, há-de chegar uma altura em que os consumidores reivindicarão prestações pecuniárias, tal qual os profissionais que funcionam actualmente como mediadores. Seja como for, a concorrência será cada vez maior, devido ao espectro alargado de candidatos ao protagonismo, uma situação que servirá para a indústria refrear as veleidades retributivas dos cidadãos/consumidores. Nesse tempo, a cidadania será um conceito muito mais lato do que é hoje e o consumo não terá a carga condicionante que ainda mantém. Os consumos, ligados directamente à produção e à satisfação de necessidades cada vez mais individualizadas, serão entendidos como emancipadores, tal qual os contributos que cada um efectivar com vista a uma alargada participação cidadã.

terça-feira, 13 de março de 2007

Cidadãos e consumidores

A comissária europeia Meglena Kuneva quer "dar voz e poder aos 493 milhões de consumidores para moldarem o mercado na era da Internet." Segundo o DE, "com o projecto da Europa política suspenso e uma Comissão orientada para o mercado, a Europa dos cidadãos cede caminho à dos consumidores." Todavia, o cerne da questão não está em colocar dicotomicamente a Europa política e a Europa do mercado. O facto é que as duas realidades coexistem, estão cada vez mais interligadas e a situação verifica-se também ao nível dos consumos mediáticos, como se pode ver por aqui. Quem não quiser conceber este entrosamento, entre cidadania e consumo, arrisca-se a não arranjar chaves para abrir as portas do futuro.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Director adjunto de informação apresenta concurso

É a primeira deriva notória a caminho do entretenimento naquele que foi apresentado como o espaço privilegiado de informação do novo RCP. O director adjunto de informação, João Adelino Faria, que é também o pivot do programa "Minuto a Minuto", diariamente entre as 7 da manhã e o meio-dia, lançou ontem um "concurso" destinado a eleger a "personalidade nacional de televisão e rádio", conforme pode ser lido aqui. A 20 de Março, João Adelino Faria apresenta um programa especial para revelar os escolhidos pelo público do Rádio Clube. É óbvio que não está em causa a legitimidade pela opção deste formato de entretenimento. O que parece menos curial é a sua apresentação pelo director adjunto de informação e não por um outro apresentador ou animador da estação. Este episódio vem reforçar a conclusão a que se chegava aqui. Para os jornalistas, nomeadamente nos audiovisuais, está a tornar-se cada vez mais difícil conviver com as fronteiras entre a informação e o entretenimento.

terça-feira, 6 de março de 2007

A Renascença não dorme...

Os ouvintes anónimos vão ser as futuras caras da Mega FM. Segundo o DE, vai ser proposto aos ouvintes que sejam eles a construir a comunicação da rádio. Este é mais um passo na interacção entre emissores e receptores. A confluência de papéis nos media, favorecida pela evolução tecnológica, está a criar um novo paradigma onde se misturam, por um lado, as noções de cidadania e consumo, como pode ser visto aqui, e, por outro, proporciona mais do que uma simbiose, gerando uma apropriação dos media tradicionais pelos utilizadores que dá que pensar sobre o que será, no futuro, o papel dos actuais profissionais.

domingo, 4 de março de 2007

A censura na rádio antes do 25 de Abril

Antes do 25 de Abril de 1974, o lápis azul da censura também se fazia sentir na rádio embora a actuação dos vigilantes do regime esteja mais largamente documentada na imprensa. Na rádio oficial, a Emissora Nacional, eram os próprios responsáveis internos quem determinava os conteúdos que podiam ou não ser emitidos. O documento que se segue corresponde ao guião da rubrica "Transmutação" elaborada por José Cerejeira, Vítor Soares e Vítor Abrantes Pereira para o programa juvenil "Abertura 1.6", realizado por Fernando Balsinha e Salvador Alves Dias, em 1971. O corte assinalado pelo Chefe de Repartição de Programas Literários e Científicos - Secção de Programas Dramáticos limitava-se a reproduzir uma citação de uma funcionária do Gabinete de Estudos Sociais da Direcção-Geral da Assistência, um organismo do Estado. Ainda assim, a frase de Helena Cidade Moura não passou no crivo da censura.

Um outro guião da rubrica "Transmutação", submetido ao visto prévio na mesma data (27 de Março de 1971), teve ainda menos complacência por parte dos censores. Levou um corte de alto a baixo, o que inviabilizou a sua realização. Tratava-se de uma produção feita com base no poema de Thiago de Melo "Estatutos do Homem", na altura largamente difundido através de um poster com venda pública autorizada e que muitos jovens portugueses escolarizados exibiam nas paredes dos seus quartos. Para a fúria censória terá certamente contribuído a sonorização feita com faixas musicais de autores que assumiam algum tipo de compromisso social e que embora não estivessem no index de músicas proíbidas de passar na rádio ganhavam outra dimensão ao serem entrosadas no poema. De resto, após as primeiras emissões da rubrica, em que apenas nos pediam o texto para submeter ao visto prévio, os autores foram sendo compelidos a especificar também as músicas nos respectivos guiões.
Os dois documentos seguintes referem-se a textos "não aprovados" destinados a um programa de jovens universitários de Luanda, em 1973/74, e do qual podem ser ouvidas duas emissões mais abaixo. No primeiro caso, a "Carta à minha professora" era a reprodução de um poema publicado num jornal angolano, mas que não teve autorização para ser lido na rádio. O segundo texto foi elaborado a partir de uma notícia e o motivo do corte foi a expressão assinalada a vermelho que, presumivelmente, abalava a decência e os bons costumes do censor.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Descubra as diferenças...

Entre a central de comunicação do Governo de Santana Lopes, vetada por Jorge Sampaio, e o Gabinete para os Meios de Comunicação Social, cuja orgânica foi hoje aprovada em Conselho de Ministros (via ContraFactos).