domingo, 25 de fevereiro de 2007

A forma e o conteúdo no novo RCP

Pondo de parte alguns percalços técnicos, parcialmente justificáveis na fase de ajustamento de um novo projecto, já é possível ter uma ideia sobre as questões de forma do novo RCP. E, desde já, parecem indesculpáveis aspectos do trabalho de pós-produção e difusão que configuram, antes de mais, desrespeito pelos ouvintes, designadamente a colocação no ar de programas pré-gravados com incongruências de linguagem relativamente ao tempo. Aqui fica um exemplo entre vários possíveis. Era terça-feira de Carnaval, 20 de Fevereiro, às 15h50 e a animadora Teresa Gonçalves diz: "Atenção às notícias das 3, vai ficar a saber da actualidade deste sábado". Aliàs, é comum a repetição de programas já apresentados, há vários dias, sem qualquer aviso prévio: a "Torre de Babel" de sábado, 17 de Fevereiro, foi repetida na terça-feira de Carnaval, deixando evidenciar o desfazamento temporal de alguns conteúdos incluídos no programa.
Outro aspecto nitidamente menorizado é a identidade sonora da estação que deixa ainda muito a desejar. Os jingles, os spots, as cortinas musicais, todas as marcas identificadoras do novo RCP são pouco expressivas e pouco apelativas. E, por maioria de razão, numa rádio de palavra as "respirações" proporcionadas pela linguagem sonora da estação são decisivas para o bom equilíbrio e agradabilidade no conforto de escuta. Sobre a qualidade radiofónica das vozes em antena, a dupla Aurélio Gomes/Teresa Gonçalves sobressai facilmente num contexto em que o acesso ao microfone é facultado a quem quer que seja, tenha ou não voz e preparação para isso. De resto, é comum na rádio dos nossos dias, confundir-se informalidade com falta de postura profissional, o que dá origem a muitos equívocos.
Apenas por uma razão metodológica as questões de forma foram aqui referidas separadamente, sabendo nós que é mais correcto pensá-las como questões de conteúdo. Todavia, ao descurarem abertamente algumas questões de forma, os responsáveis pelo projecto deixam indiciar que o conteúdo pode ter aqui um sentido meramente instrumental. Com que intuitos? Essa é uma pergunta a que só será possível responder mais tarde, após a estabilização do projecto, e depois de ser feita uma detalhada análise de conteúdo.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Sinal dos tempos

A fronteira entre informação e entretenimento, nos audiovisuais, vai-se esbatendo todos os dias mais um pouco. Segundo refere o JN, a festa de aniversário da TVI teve "muito entretenimento, curiosamente feito só pelos elementos da informação".



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Ouve-se e não se acredita...

Às nove e meia da manhã o RCP apresenta uma notícia própria em destaque com o seguinte título: "Não se sabe ainda se há risco de contágio para os humanos em novas formas da doença das vacas loucas detectadas nos bovinos". Qual é o efeito duma notícia apresentada desta maneira? Cria alarmismo desnecessário entre a população.

Na mouche!

Sobre o futuro dos jornais...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Os novos consumos mediáticos

Na sequência do post “Pensar os jornais” de JPP, do feedback de leitores do ABRUPTO, e dos contributos para o debate lançados nos blogues INDÚSTRIAS CULTURAIS e BLOGUITICA, permito-me dar uma achega centrando-me no âmbito da interacção, apontada por PG como a saída para a crise por que passam os jornais. Ao competir com os novos consumos mediáticos gerados pelos audiovisuais e pela rede, a imprensa (nomeadamente a dita “de referência”) pode chegar a soluções para o impasse em que se encontra tirando partido das conclusões a que se vai chegando com as experiências interactivas noutros media. Neste resumo, que documenta um trabalho feito por mim no âmbito de um programa doutoral, pode ver-se como a interacção deixou de ser um fenómeno linear, sem estar exclusivamente vinculada quer a aspectos de consumo, por um lado, ou a aspectos de cidadania, por outro. Em vez disso, parece cada vez mais claro que a interacção estabelece correlações com a cidadania e com o consumo a partir de uma lógica em que uma nova prática cidadã interage directamente com a cultura do consumo através de um modelo de convivência que gera um novo paradigma de cidadania e que transforma o receptor em produtor. Assim, a crescente interacção vivida através dos media ajuda a explicar a emergência do conceito de cidadãos-consumidores, no qual a cidadania deixa de ter apenas uma dimensão sócio-política, mas passa também a ter uma dimensão sócio-comunicacional, cultural e económica. Por todo este conjunto de razões, a mudança em curso no sentido dos consumos mediáticos interactivos não pode deixar de levar em linha de conta que o perfil dos cidadãos (das elites e não só) se alterou e que tal como diz Pacheco Pereira “é preciso ir mais longe na análise da crise e pensar as questões de forma (…) como questões de conteúdo”.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Um programa de rádio com 33 anos


Chamava-se "Rádio Nova, Rádio Nossa" e era um programa realizado por um grupo de jovens, em Luanda, no ano de 1974. A difusão era facultada pela Emissora Oficial de Angola. As duas emissões que pode ouvir aqui e aqui dão uma ideia das estratégias possíveis para furar as malhas da censura pouco tempo antes do 25 de Abril. Neste caso, valia o recurso ao nonsense e ao absurdo, temperados com ironia q.b.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

"A ERC ainda não é mas vai ser tranquilamente aceite"

José Azeredo Lopes, presidente do conselho regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), em declarações ao Jornal de Negócios, aposta na tranquilidade, seguindo as pisadas do treinador do Sporting, Paulo Bento.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

RCP - uma rádio de convidados

Ela aí está. Finalmente. A rádio que faltava em Portugal: uma rádio de convidados. Luís Osório tinha razão quando anunciava a presença de dezenas de convidados em cada dia como o grande valor acrescentado que o novo RCP vinha trazer à rádio portuguesa. De opinion-makers da política a cantores pimba, de astrólogos a sociólogos, do talhante do bairro ao ministro, todos têm lugar na “rede de influência” gerada pela abertura do microfone a uma plêiade de protagonistas, sejam eles pouco conhecidos ou determinantes figuras públicas. No geral, têm em comum a expectativa de uns minutos de fama consagrada neste modelo radiofónico. Por isso mesmo, nunca vão faltar convidados, mesmo que, por vezes, possa parecer discutível o interesse do discurso público deste ou daquele protagonista. No fundo, é levar ao extremo a lógica dos já testados fóruns radiofónicos (a forma mais barata de fazer rádio) com a economia de recursos que o modelo propicia aos operadores que, simultaneamente, podem apresentar o alargamento do espaço público como um valor acrescentado de ordem social. À rádio cabe disponibilizar o palco deixando brilhar o “you”, a personalidade do ano 2006 consagrada pela revista TIME. O público em geral, cada um de nós, vai gradualmente assumindo o papel anteriormente destinado aos profissionais dos media a quem vai restando fazer a figura de compère por mais diligente e bem intencionada que, à partida, seja a sua actuação. Aos jornalistas dos audiovisuais, nomeadamente, coloca-se de uma forma cada vez mais nítida a questão se o que fazem ainda é informação ou simplesmente entretenimento.

Sociedade da informação ou do entretenimento?

Até ao último quartel do Século XX, o conhecimento resultava, em grande medida, do processamento da informação. As reformas pedagógicas e educativas, por um lado, e a massificação da informação, por outro, originaram que o conhecimento seja processado, cada vez mais, a partir de formulações do entretenimento.